Se a intenção da série era mostrar a personalidade dos envolvidos, tanto pior. “Pacto Brutal” carrega nas tintas – isso num gênero já conhecido por carregar muito nas tintas. A certa altura, por exemplo, Daniella Perez é retratada quase como uma santa cujo corpo se recusa a se decompor. Juro. Já o advogado de defesa de Guilherme de Pádua é retratado como um patife bufão. Isso sem falar no delegado machista, com agens pelos porões de tortura da Ditadura Militar. 164a4q

Nem um retrato do ambiente artístico da época o documentário foi capaz de fazer. Pelo contrário, “Pacto Brutal” opta por transformar o mundo das novelas numa espécie de Paraíso maculado por um psicopata (palavra amplamente usada na série) narcisista. A ambição de Guilherme de Pádua, aliás, é vista como algo fora do comum. Como se o que prevalecesse na teledramaturgia global fosse uma espécie de estoicismo meritocrático. Me engana que eu gosto.

Ou melhor, não gosto. Não quando envolve o assassinato de uma pessoa. Nem quando os aspectos mais sórdidos de um crime são evocados a fim de se buscar uma justiça utópica (que, aliás, está muito mais para vingança). Muito menos quando fica claro que, para os documentaristas, mais importante do que o crime em si é o fato de ele estar envolvo em machismo e na repugnante ambição capitalista, com pitadinhas do que eles consideram “intolerância religiosa”. Por fim, não gosto de ser enganado quando sinto que desperdicei cinco horas da minha vida assistindo a uma peça de propaganda cujo objetivo é usar a dor muito particular de uma mãe para tentar provar que o ser humano é irredimível. Não é.