Com o século XX (ou 20, para os mais jovens), morre também a hegemonia cultural norte-americana no Ocidente. E não me escapa a ironia de eu ter me dado conta disso por causa da morte de uma monarca britânica. De certa forma, morre todo tipo de informação centralizada. Assim, morrem também as celebridades absolutas e os ícones culturais. Morre a música que aprendi a ouvir. Morre (e aqui vocês me perdoem um pessimismo que, reconheço, não combina nem comigo nem com o sábado) o que restava da sensação de ser um indivíduo cercado por uma sociedade, e não uma sociedade sufocando um indivíduo. 304c3x

Me reconheço, assim, um homem do meu tempo, que é um tempo ado. Um século ado. É a essa preteritude que recorro quando preciso me revelar “antenado” ao presente a fim de vislumbrar o futuro. E você, leitor atento, deve ter percebido que o “antenado” aí denuncia não apenas a idade, mas também a antiguidade de quem escreve. O século XX foi o de semear. Agora já estou no meio da colheita. Pelo menos há fartura!

Dizer que o século XX fará falta seria absurdo. Assim como não faria sentido algum dizê-lo insubstituível. Pelo contrário. Com seus cabelos coloridos, alargadores nas orelhas, sexo fluído e ultraniilismo, o século XXI já se apresentou para cumprir as funções de tempo presente – e para tanto escolheu o nome de século 21. Dizem que, ao contrário das tragédias e dos dramas muito humanos que marcara seu antecessor, o novo tempo-rei quer ser reconhecido pelo triunfo derradeiro da técnica sobre a imperfeição dos tais Homo sapiens.

Só nos resta esperar que tenha algum juízo, o novo soberano. E, se calhar, algum senso de humor. De minha parte miniminiminiminúscula, rezo para que o novo século ao menos tenha noção da própria finitude - que infelizmente não terei o prazer de testemunhar. Rezo para que este século termine não com um estrondo nem com um gemido, e sim com um suspiro de quem sabe ter cumprido seu papel na Eternidade.