Escrito entre julho de 1991 e junho de 1992, o livro é cheio de historietas de personagens maiores e menores que se dedicaram integralmente ao Partido e à causa. Que doaram sua vida, seu tempo, suas relações pessoais, seu talento. Que acreditavam com uma fé que hoje nos parece incompreensível e que para Jorge Amado, à luz da queda do Muro de Berlim  e do colapso da União Soviética, é motivo de arrependimento. E é aqui que entra a Lava Jato. 4q2a2d

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No auge da Lava Jato, quando Lula foi finalmente em cana e os fogos de artifício coloriram os céus da República de Curitiba, imaginei que para o PT era o fim. Peguei uma cadeira bem confortável, me sentei e fiquei só esperando o mea culpa de políticos, intelectuais, artistas e jornalistas. Esperava que, assim como Jorge Amado e Prestes ao verem tombar o Muro da Vergonha, os petistas tivessem a hombridade de reconhecer que haviam acreditado numa farsa.

Isso, evidentemente, não aconteceu. Tanto é assim que temos Lula III no Trono de Babaçu. Mas não se pode dizer que os pecadilhos da Lava Jato tenham sido os responsáveis por isso. A culpa recai sobre aqueles que antigamente chamávamos de formadores de opinião e que hoje em dia chamamos de influencers: artistas, intelectuais populares, jornalistas e eventuais tuiteiros, instagramers e youtubers.

Foram eles que, por ignorância, desonestidade intelectual ou uma mistura das duas coisas, se recusaram a reconhecer que o Departamento de Propina da Odebrecht e o triplex do Guarujá estão para Lula e o petismo como as torneiras de ouro e os gulags estavam para os ideais de igualdade e justiça do comunismo. Foram eles que não conseguiram encarar o fato de terem dedicado suas vidas a exaltar um partido e um líder que não valiam nem valem um tostão furado.

Por quê? Me arrisco a apressadamente (é domingo!) dizer que a diferença entre a reação dos comunistas da velha guarda e os Che Guevaras de apartamento está na formação intelectual e moral. Uma diferença que a Lava Jato não percebeu e da qual só me dei conta agora, ao ler “Navegação de Cabotagem”. É que, apesar de serem ateus e de acreditarem na utopia marxista, os comunistas d’antanho ainda se importavam com a honra, com o legado intelectual, com o fazer o certo. O PCO, aliás, é um resquício disso.

A Lava Jato fez um ótimo trabalho em dialogar com pessoas que ainda levavam em conta esses valores. Ela só não esperava que os formadores de opinião de hoje fossem tão desonestos e demonstrassem tamanho descomprometimento com o próprio legado moral e intelectual. Ela só não esperava encontrar uma geração para a qual vencer é mais importante do que fazer o certo.