Uma convergência beneficiaria o governo Bolsonaro, ao melhorar o cenário econômico. Beneficiaria a esquerda – ou, ao menos, as ideias de esquerda – ao derrubar absurdos que favorecem a desigualdade no Brasil. O tribalismo impede o avanço dessas negociações.
Para criar um ambiente político construtivo e consequente, não basta exigir mudanças do presidente Bolsonaro e do bolsonarismo que o cerca. Esta é uma condição necessária, mas não suficiente. Repórteres precisam noticiar aquilo que realmente importa para o cidadão, e não a última fofoca que mobilizou irrelevantes cinco mil pessoas no Twitter. Colunistas precisam resistir à tentação dos temas fáceis e lembrar daquilo que é chato.
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A esquerda, por sua vez, precisa de mudanças profundas que hoje parecem improváveis – basta observar o comportamento das bancadas de PT, PDT e PSOL para notar que diálogo não é o forte dessa turma. Muitos grupos que hoje estão confortáveis em culpar Bolsonaro por todos os problemas nacionais precisam itir a própria culpa no emporcalhamento do debate público.
Talvez seja utópico esperar que as lideranças de partidos e redações coloquem suas vaidades e estratégias comerciais de lado em nome de uma construção nacional. Infelizmente, num país guiado pelo liberalismo político, a via do progresso é pavimentada por negociações em torno de assuntos chatos. Qualquer outra opção, por melhor que nos pareça à primeira vista, é apenas um disfarce para a barbárie.