Dado esse cenário de longo prazo, cabe ressaltar que a culpa não é apenas de Bolsonaro. Todas as lideranças das últimas décadas merecem uma boa dose de culpa pelo desastre brasileiro. O que cabe ao presidente é a cobrança para que a situação mude. Como chefe de Estado, muitas reformas são de competência exclusiva de Jair Bolsonaro – isto é, só podem ser propostas por ele.

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Em segundo plano, a resolução do desastre cabe aos parlamentares, que precisam votar com celeridade o que o presidente propõe e melhorar os projetos, ao invés de piora-los. Ao contrário do que muitos pensam, Bolsonaro não é mais poderoso do que as casas legislativas comandadas por Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. O poder dele é diferente e está concentrado em um ser humano, ao invés dos 594 (513 deputados e 81 senadores) que compõem o Congresso Nacional. A lembrança é válida para legitimar o Legislativo como ente fiscalizador do Executivo, mas também para lembrar que Maia, Alcolumbre e todos os parlamentares devem ser responsabilizados, pois possuem o fundamental poder de mudar o Brasil.

A agenda que precisa ser implementada é extensa: abertura comercial, reforma tributária, reforma do Judiciário, reforma do licenciamento ambiental, desburocratização da máquina pública, aprovação do novo FUNDEB, substituição de políticas sociais ineficientes por outras que tenham o poder de resolver algumas das injustiças sociais brasileiras... E ainda é pouco perto do que precisamos fazer. Não dá para resolver um desastre estrutural e colossal com medidas cosméticas. Até por isso, a eleição para a presidência da Câmara e Senado, no início de 2021, é fundamental.

Por outro lado, cabe a Bolsonaro criar um ambiente com menos conflitos desnecessários e mais pacificação. Dizem que o presidente é incapaz de gerar harmonia e moderação. Sua carreira confirma a suspeita. Um exemplo simbólico é seu ministro da Educação, que é mais conhecido por suas opiniões sobre o STF do que pelas propostas do seu ministério, tão importante para o crescimento de longo prazo do país.

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No cenário do fim de 2019, sem pandemia, a moderação e pacificação do debate eram opções para Bolsonaro. Por mais importantes que já fossem desde àquela época, o presidente não corria o risco de cair enquanto a economia mostrava sinais de melhora. Entrevista ruim não derruba presidente, mas crises econômicas derrubam.

Desde a pandemia, tudo mudou. A frágil situação econômica se tornou um caos, tão preocupante quanto qualquer outro cenário já visto desde 2016. Temer navegou por mares mais calmos que o atual. Hoje, a estabilidade do barco e o diálogo entre diferentes é mais importante do que nunca. Além dos interesses políticos de Bolsonaro, a pacificação importa porque o Brasil importa.

Se o barco afundar, afundaremos todos juntos. Só a política pode nos salvar. Lembre-se disso antes de, raivosamente, gritar com quem pensa diferente de você. Quando o pulmão está cheio de água, o sujeito deixa de ser liberal, conservador ou socialista, e a a ser apenas um cadáver. Chegou a hora de pensar no país.

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