O crédito livre crescia bastante em 2007. Vale lembrar que, no início do mandato de Lula, o governo promoveu um grande crescimento do crédito livre. Com liberais como Marcos Lisboa na equipe econômica, diversas reformas melhoraram o ambiente de negócios no setor.
A partir de 2008, ocorre uma desaceleração do crédito livre que culmina na crise econômica de 2015-16. Desde então, o crédito livre voltou a crescer. Atualmente, está com a maior taxa de crescimento desde 2011.
O sucesso do plano econômico de Paulo Guedes depende de uma aceleração ainda maior do crédito livre, incentivando a realização de investimentos no Brasil. O que foi alcançado até o momento ainda é pouco para que a economia volte a decolar.
Como já mencionei acima, o saldo de crédito total da economia brasileira caiu de R$ 3,96 trilhões em dezembro de 2014 para R$ 3,46 trilhões em janeiro de 2020. Para recuperar esse patamar, o crédito livre precisa crescer 25% (ir de R$ 2 trilhões para R$ 2,5 trilhões) caso o crédito direcionado permaneça estável.
Se o crédito direcionado cair R$ 200 bilhões no período, o crédito livre precisaria crescer 35% para recuperarmos o nível de crédito total registrado em dezembro de 2014. Hoje, a taxa de crescimento anual do crédito livre está ao redor de 10%. Isto joga dúvidas sobre a capacidade do governo Bolsonaro de entregar, ainda neste mandato presidencial, um saldo de crédito total superior ao que tínhamos antes da crise.
O governo sabe disso. A política econômica tem dedicado grande atenção ao setor de crédito, tanto no Banco Central quanto no Ministério da Economia.
O BC tem alterado diversas regulações para aumentar a competição bancária. Um dos objetivos do ajuste fiscal é reduzir a taxa de juros paga pelo governo, permitindo que a poupança doméstica financie o setor privado. A própria redução do crédito direcionado ajuda na queda dos juros, estimulando assim o crédito livre.
O problema é que, compreensivelmente, não é fácil resolver os problemas do mercado de crédito brasileiro. Não adianta facilitar o uso de imóveis como garantias em empréstimos se, em caso de calote, a Justiça demora anos para permitir a execução das garantias.
Por sinal, o Brasil tem índices terríveis de recuperação de crédito. A inadimplência, em geral, leva a prejuízos para o credor. Mudar esse cenário exige reformas profundas no Judiciário. O governo consegue combater esse tipo de incerteza? Não é fácil.
O grande risco é que, sem resolver esses problemas, o crédito livre pode continuar severamente limitado.
Também há esperanças. Como sabemos, a expansão do crédito direcionado entre 2008 e 2015 financiou projetos tremendamente ineficientes, como estádios em regiões sem futebol de alto nível. Diversos estudos acadêmicos apontam que, apesar das centenas de bilhões de reais derramados no BNDES, as operações realizadas pelo banco estatal tiveram impacto ínfimo no emprego e no nível de investimentos realizados no país.
Com a emergência do crédito livre, a economia como um todo pode ficar mais eficiente. Em negociações livres no setor privado, o dinheiro pode fluir para quem é mais produtivo, ao invés de beneficiar amigos do poder.
A longo prazo, uma economia financiada majoritariamente pelo setor privado, com um mercado de crédito mais eficiente, pode ter um impacto revolucionário para o bem-estar brasileiro. O Brasil está na transição para um novo modelo de crescimento econômico. Gosto da ideia, mas sei que não será fácil chegar no que Guedes promete. Que o leitor não se engane: análises sobre crédito livre e direcionado podem soar abstratas para o não-economista, mas é este tipo de fenômeno que vai definir as eleições de 2022.
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