Segundo Ciro, a solução para a política monetária é garantir que “o Banco Central brasileiro seja como todo banco central sério do mundo: responsável por combater a inflação, mas responsável, também, pelo nível de emprego, pelo nível de atividade econômica e pelo ambiente da renda do povo brasileiro”. A autonomia seria um desvio dessa rota.

Mais uma mentira: ao contrário do que diz Ciro, a maioria dos bancos centrais do mundo possuem autonomia. Além disso, o próprio PLP 19/2019 atende a uma demanda histórica do cirismo e inclui o pleno emprego entre as atribuições do BC. A declaração do ex-presidenciável deveria servir como pretexto para manter apenas a estabilidade de preços entre os objetivos do BC. Ao contrário do que Ciro diz, muitos bancos centrais buscam apenas a estabilidade de preços – é o caso do BC europeu, por exemplo.

Em suma, o projeto de autonomia do BC traz uma inovação: a diretoria do Banco Central teria um mandato fixo de 4 anos e só poderia ser demitida antes da hora com aprovação do Senado. Ao contrário do que Ciro diz, o projeto não tira a política monetária das mãos de políticos legitimamente eleitos. O presidente indica a diretoria e, como já mencionei, define as metas de política monetária.

Ciro parece não entender por que a pauta está indo à votação agora. Fico me perguntando: será que ele acompanha o noticiário econômico? Além da disparada do dólar, a taxa de juros esperada a longo prazo tem subido – para entender melhor, leia a coluna que escrevi sobre a curva de juros.

Com as contas públicas em frangalhos, o governo tem pouco espaço de manobra para estimular a economia através da política fiscal. Por isso, juros baixos são cruciais para a retomada da economia, que hoje se encontra com desemprego recorde, num completo desastre em termos de mercado de trabalho.

A autonomia do BC ajudaria o Brasil a manter juros baixos ao aumentar a credibilidade da política econômica. Embora o presidente continue indicando a diretoria do Banco Central, ele perde o poder de manipular a taxa de juros com toques populistas, para fins eleitorais. Ou seja, nos protege de políticos como Ciro Gomes, que parecem crer que a determinação da taxa de juros se dá na esfera dos desejos. Trata-se de uma irresponsabilidade conveniente para quem quiser acumular poder, mas perigosíssima para o brasileiro comum, que no fim das contas sempre paga o pato.

Porém, para nos proteger mesmo de Ciro, de modo duradouro, não basta a autonomia do BC. Precisamos de um debate público implacável com aqueles que divulgam mentiras politizadas. É urgente associar Ciro aos pecados que ele comete habitualmente: fake news, sensacionalismo, agressividade. Por rebaixar o ambiente político nacional, tornando-o mais fértil às baixarias, Ciro deve ser punido com uma má reputação.

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