Essa nova imagem não significa que o PSOL moderou suas práticas e discursos. Há stalinistas confessos, que propõem a prisão com trabalhos forçados para defensores de reformas pró-mercado, no palanque de Boulos. Vale lembrar que o próprio candidato, antes do MTST, atuava na União da Juventude Comunista, ligada ao PCB. A posição do PSOL sobre Cuba e Venezuela não mudou. E a agenda do partido continua próxima ao que Dornbusch descrevia como “populismo econômico latino-americano”.
Por que, então, Boulos consegue vender-se como o ponderado na sala? A explicação tem várias partes, mas a mais relevante delas está em Brasília. Bolsonaro ajudou a normalizar aquilo que, poucos anos atrás, era visto como extremo. Apesar de se vender como terror da esquerda radical, o presidente atua na prática como incentivador dela. Curiosamente, os fundamentalistas de esquerda se dizem necessários para combater os de direita, e vice-versa, mas a história nos mostra que ambos se retroalimentam.
Imagino que o leitor tenha se escandalizado com o título do artigo. Apesar de possuir uma boa diversidade no quadro de colunistas, com liberais e conservadores que se digladiam com frequência, a seção de opinião da Gazeta não tem PSOListas. E eu não serei o primeiro. Como eleitor de São Paulo, votarei em Bruno Covas sem dor na consciência, mas sem orgulho. Meu voto é, principalmente, veto. Não quero que Boulos vença.
No ambiente polarizado da política brasileira, quem não gosta de um partido costuma apenas gritar impropérios, mas ignorar os méritos de um adversário é a melhor forma de garantir a vitória dele. Recentemente, dizia-se por aí que “the left can’t meme”, a esquerda não faz meme, e hoje o PSOL está aí, com uma das melhores campanhas de rede social já feitas no país.
Se você não gosta de Guilherme Boulos, é ainda mais importante entender por que ele já venceu politicamente, antes de vencer eleitoralmente. E, especialmente, entender o que possibilitou a vitória política, pois só assim será possível impedir que se transforme em vitória eleitoral.
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