, de Sir David Lindsay, publicado em 1920, e que Lewis lera em 1935. Foi na leitura da obra de Lindsay que Lewis teve a ideia de que a ficção científica era um excelente veículo para experiências espirituais, e também de um método para escrita de ficção que ele chamou de “ficção científica teologizada”. Não foi o conteúdo da história de Lindsay que atraiu Lewis, pois ele o considerava demoníaco, mas a habilidade com que fez da ficção científica um meio para transmissão de ideias filosóficas.

Ou seja, as histórias eram povoadas desse delírio por domínio de outros planetas e isso incomodava profundamente Lewis, pois certamente uma influência dessas na imaginação moral das pessoas não seria nada proveitosa. Isso seria como esquecer os princípios de ordem e de moralidade que nos formaram; seria tentar, num impulso luciferino, assumir o controle sobre a criação e, consequentemente, sobre o homem. E, como diz Lewis em A abolição do homem:

A conquista da Natureza pelo Homem, caso se realizem os sonhos de alguns cientistas planejadores, significaria que algumas centenas de homens estariam governando os destinos de bilhões e bilhões. Não há nem pode haver nenhum acréscimo ao poder do Homem. Cada novo poder conquistado pelo homem é da mesma forma um poder sobre o homem. Cada avanço o deixa mais fraco, ao mesmo tempo que mais forte. Em toda vitória, o homem é ao mesmo tempo o general que triunfa e o escravo que segue o carro dos vencedores.

É por reconhecer nossa condição de imperfeição que Lewis sabia dos riscos que essas tentativas de domínio desenfreadas nos trazem. Edward Weston, de Além do Planeta Silencioso, é um personagem possuído pelo desejo de controlar a natureza; sua missão, segundo ele, é em prol da humanidade – nem que, para isso, alguns indivíduos tenham de perecer. Ele diz que “os fins justificam os meios”, afinal: “ao que nos seja dado saber, estamos fazendo o que nunca foi feito na história do homem, talvez na história do universo. Aprendemos a saltar do cisco de matéria no qual nossa espécie surgiu. O infinito e, portanto, talvez a eternidade, está sendo posto nas mãos da espécie humana”. E completa, dizendo a Ransom, o tranquilo filólogo que sequestrou na Terra a fim de sacrificá-lo para alcançar os seus objetivos: “você não pode ser tão mesquinho a ponto de pensar que os direitos ou a vida de um indivíduo ou de um milhão de indivíduos tenham a menor importância em comparação com isso”.

Portanto, quando assistir Ad Astra, caríssimo leitor, se leu Além do Planeta Silencioso se lembrará das palavras de Weston e da trama malacandrina. Se já viu e não leu, corra para ler a sensacional obra de C. S. Lewis .

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