Mais adiante, o tema voltou quando os entrevistadores perguntaram ao papa se a luta contra o aborto deveria ser a maior prioridade da conferência episcopal norte-americana. E Francisco respondeu: 36h3n

“Isso é algo que a própria conferência tem de resolver. O que me interessa é a relação do bispo com seu povo, que é sacramental. A outra questão é organizacional, e algumas vezes as conferências se equivocam. Vejam o que houve na Segunda Guerra Mundial, quando certas escolhas das conferências episcopais foram erradas do ponto de vista político e social. Às vezes a maioria prevalece, mas talvez a maioria não esteja certa.
Em outras palavras, que fique claro: uma conferência episcopal frequentemente tem de se posicionar sobre a fé e sobre as tradições, mas acima de tudo, sobre istração diocesana e por aí vai. A parte sacramental do ministério pastoral está no relacionamento entre o pastor e o povo de Deus, entre o bispo e seu rebanho. E isso não pode ser terceirizado para a conferência episcopal. A conferência ajuda a organizar encontros, que são importantes. Mas, para o bispo, o mais importante é ser um pastor. O mais importante – essencial, eu diria – é o sacramental. Obviamente, cada bispo tem de buscar estar em fraternidade com os outros bispos, isso é importante. Mas o essencial é o relacionamento com o seu povo.”

A questão é que, para algumas coisas, as conferências episcopais são importantes, a ponto de os papas, ao longo das décadas, terem lhes delegado certos poderes que ordinariamente caberiam apenas a Roma. O problema é que muitas vezes as conferências acabam se preocupando mais com outras coisas que com aquilo que efetivamente lhes cabe. Se a CNBB, por exemplo, pegasse metade do tempo que a fazendo politicagem com notas enviesadas com ideologia de esquerda, e o empregasse na tradução do missal (que de fato é uma missão da conferência, até porque seria caótico e impossível cada diocese ter sua versão), o trabalho já estaria terminado faz muito tempo – só lembrando, a terceira edição latina é de 2002.

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O que o papa está dizendo é que a conferência não supera nem substitui a autoridade que cada bispo tem sobre a Igreja particular que preside. A conferência não é um “superbispo”, não é instância intermediária entre o bispo e o papa, nem pode ficar se intrometendo na forma como cada bispo pastoreia sua diocese; ela é uma instância de trabalho conjunto, apenas naquilo que exija esse nível de coordenação. Bispo não deve obediência à conferência episcopal, nem tem obrigação de dizer “amém” a tudo que vem dela, muito menos de órgãos específicos – em 2010, bispos corajosos criticaram um “plebiscito” sobre reforma agrária apoiado pela Comissão Pastoral da Terra (T) – e menos ainda quando quem toca o dia a dia da conferência nem são os bispos, mas assessores ideologicamente enviesados, do tipo que até censuram artigos de bispos no site da conferência, como ocorreu com o saudoso dom Luiz Gonzaga Bergonzini nas eleições de 2010.

Difícil dizer se o papa, ao responder a uma pergunta sobre a conferência episcopal norte-americana, também quis mandar um recado aos “sinodais” alemães, que chegaram a pretender que suas loucuras tivessem de ser obrigatoriamente acatadas mesmo pelos bispos contrários – aliás, senti falta de uma pergunta específica sobre o “caminho sinodal” alemão. Mas a mensagem dele é bem clara e aplicável a todas as conferências, em todo o mundo. Quero saber quantas vão ouvir e entender o recado...