“Complexa e sistêmica crise, que escancara a desigualdade estrutural, historicamente enraizada na sociedade brasileira”? “Economia que mata?” Será que o “apoio incondicional às instituições da República” também inclui aquelas que mandam monitorar padre no Telegram? Se o leitor achou o texto prolixo, insosso e genérico, saiba que nem de longe está sozinho. Mas saiba também que poderia ter sido muito, muito pior. A coluna teve o a informações de bastidores que nos permitem concluir que este texto foi o melhor possível. A elaboração da nota estava a cargo de uma comissão ad hoc presidida por dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS) e vice-presidente da CNBB, e a primeira versão, diz um bispo ouvido pela coluna, não ava de “um panfleto antigoverno”, com uma “linguagem inaceitável”. Dezenas de bispos se mobilizaram, a discussão foi a plenário e, no fim, saiu a mensagem que vimos aí. “Foi o melhor que se conseguiu dentro de um contexto bastante adverso”, diz o bispo.
A julgar pelas suas observações, parece mesmo que boa parte da CNBB está assumindo o papel de “coroinhas de Lula” (© papa Francisco). Considerando que cerca de 150 bispos, mais ou menos um quarto de todo o episcopado nacional, assinou uma tal “Carta ao povo de Deus” em 2020, com pesadíssimas críticas ao presidente da República, o mais provável era que eles desejassem algo parecido com isso que vai abaixo:
(Esta não é uma carta de bispos, mas de centenas de padres que nem tiveram a coragem de botar o nome no que escreveram. Como não soube de nada parecido vindo do mesmo grupo com argumentos para não votar em candidato que defende legalização do aborto e que elogia ditador centro-americano que persegue a Igreja, dá para cravar com toda a certeza: coroinhas de Lula.)
Os fiéis esperam de seus pastores uma orientação clara, não enviesada politicamente, que trate como inegociável o que é inegociável, como aconselhamento o que é aconselhamento, mas que também respeite a liberdade do fiel-eleitor naquilo em que a Igreja não tem posição específica
Mas, para não dizer que estou apenas destruindo, quero elogiar esta nota, dos bispos do Regional Centro-Oeste da CNBB, que engloba Goiás e o Distrito Federal. É um texto bem mais direto, com orientações claras, condizentes com a doutrina católica, e que não induzem o fiel nem a favor, nem contra candidato algum – embora saibamos que, segundo Bento XVI, os bispos podem e devem denunciar explicitamente projetos políticos que atentem contra a dignidade da vida humana.