Padre Júlio Lancellotti volta a falar sobre documentário que retrata santa como transexual 262u3x
Horas depois de a coluna da semana ada ter sido publicada, a jornalista Monica Bergamo, da Folha de S.Paulo, trouxe a queixa do padre Júlio Lancellotti a respeito das críticas sofridas por sua participação como narrador do documentário curta-metragem São Marino, que retrata Santa Marina como transexual. O sacerdote, que até então vinha evitando falar sobre o tema, afirmando que a nota da Arquidiocese de São Paulo era a palavra final sobre o assunto, se defendeu afirmando que também não abraça a tese do filme sobre a santa. “Nunca falei que a santa era LGBT (...) A minha narração é a narração oficial da história da Santa Marina (...) O documentário que vai fazer as suas interpretações, que não são minhas. O que eu relato é a vida oficial dela (...) Eu não falei nada diferente disso”, diz o padre – mas é ele quem aparece no trailer do documentário afirmando que “Marino foi canonizado como Santa Marina”, não é?
Se ele não acha que Santa Marina era um homem trans, menos mal. Mas, se é assim, por que ele não deixou isso explícito logo que o assunto apareceu? O padre se compara à própria santa, vítima de calúnia, mas, ao contrário dela, que havia feito uma promessa de não revelar sua verdadeira identidade, ele podia muito bem ter dito lá atrás que não endossava a interpretação adotada pela documentarista, e teria evitado muitos mal-entendidos. O padre Lancellotti ainda se queixou de que “O que fica sendo veiculado é que ‘padre narra história de santa trans’”; bom, aí ele que reclame com a colunista que escolheu para ser sua porta-voz, porque foi a própria Monica Bergamo quem tascou como título de sua primeira coluna sobre o tema “Padre Julio Lancellotti vai narrar curta sobre santa trans”, abrindo o texto com a frase “O padre Julio Lancellotti estreará como narrador em um curta-metragem que trata Santa Marina como uma figura LGBTQIA+”.
Repare o leitor que eu disse muitos mal-entendidos, mas não todos. Porque ainda segue cheirando mal essa participação. A diretora do documentário, Leide Jacob, deixa claro em suas entrevistas que o documentário não se limita a expor interpretações díspares sobre a vida de Santa Marina; o filme defende com vigor uma dessas interpretações e trata como farsa aquilo que o sacerdote narrou. Se o padre Lancellotti sabia disso desde o início, então ele pode reclamar o quanto quiser, mas sua presença no que acaba sendo uma calúnia contra a santa foi totalmente imprópria. Se não sabia e ficou sabendo depois, sempre haveria a opção de se desvincular do projeto, pedindo para outra pessoa refazer suas narrações, por exemplo. Se não fez isso, é como eu disse semana ada, independentemente do que ele realmente pense sobre Santa Marina, ele acaba emprestando seu prestígio a uma obra de desmoralização da Igreja.