Civis espanhóis sendo dizimados pelos exércitos jacobinos de Napoleão. Obra "Três de Maio de 1808 em Madrid", por Francisco de Goya. (Foto: Wikimedia Commons)

O levante popular que criou a democracia: Em 530 AC, em Atenas, o povo sitiou a Acrópole, por vários dias, contra Iságoras, que era auxiliado pelo exército espartano. Municiado somente com paus e pedras, a população criou uma ofensiva até que Clístenes negociasse a rendição e retirada de Iságoras e suas tropas do território ateniense. Na sequência, Clístenes determinou que o poder deveria ser exercido nos demes (povoados) e não centralmente. A este episódio se deve a origem do nome “democracia”, ou “governo dos povoados”. 

Lusitanos contra Roma: Na região onde hoje é Portugal, o povo da Lusitânia, de origem Celta, promoveu outro levante popular, liderado por Viriato, em 140 a.C. Essa manifestação evitou que Roma, com um exército muito mais preparado e organizado, adentrasse seu território. 

Escravos contra Roma: Em 73 a.C., na península Itálica, cerca de 70 mil escravos liderados por Espártaco se levantaram contra os exércitos romanos.

Gauleses contra Roma: Pouco tempo depois, em 53 a.C., o povo gaulês, no norte da França, indignado com a invasão romana, se organiza com seu líder, Vercingetorix, e se levanta pela unificação por um ano inteiro. Tanto neste fato como nos anteriores, os protagonistas eram a população,  massivamente analfabeta e despreparada para o combate contra os exércitos mais sofisticados e organizados da época.

O brio português: Dando um salto maior, mais próximo à nossa realidade lusófona, é bom lembrar que no início do século 19, a partir de 1808, os ses tentaram invadir Portugal por pelo mesmo três vezes, e em todas as ocasiões foram rechaçados pelo povo português. Há relatos de senhoras chacinando tropas militares sas em emboscadas, por diversas oportunidades. Apenas três países na Europa nunca foram conquistados por Napoleão: Inglaterra, Rússia e Portugal. 

Levante de 1848 na França: Após a Revolução sa, de 1789, a França nunca mais teve paz social, revivendo até mesmo o retorno do regime monárquico para evitar o caos. Quando, em 1848, o povo se levantou mais uma vez contra seu monarca, Luís Filipe I. Ele prontamente renunciou por entender a força da legitimidade popular. Este ato, que forçou a abertura do sistema político e mudança no regime, ensejou diversos outros levantes que ocorreram durante todo o século 19 em vários países europeus.

Queda do Muro de Berlim, Cortina de Ferro e Ceausescu: No final dos anos 80, do século 20, a indignação popular com a repressão soviética comunista em todo o Leste Europeu estava notoriamente alvoroçada, o que rompeu todos os alicerces de apoiamento aos símbolos comunistas. Embora fosse um embate entre as lideranças dos Estados Unidos e da União Soviética, as batalhas foram travadas em âmbito local, entre os diversos países da cortina de ferro contra seus regimes comunistas locais.

Países como Polônia, Letônia, Estônia, Hungria, Iugoslávia, Romênia, Tchecoslováquia, Bulgária e a própria Alemanha Oriental viveram esse momento. Nesses locais, até o final da década de 80, a população estava desarmada, era censurada, perseguida e monitorada. O caso mais emblemático ocorreu na Romênia, com o ditador mais cruel da cortina de ferro, Nicolae Ceaușescu. Em menos de uma semana, seu exército foi compelido pelas massas a mudar de lado e fuzilar Ceausescu sumariamente.  

Queda de Milosevic nos anos 90: Grandes manifestações, organizadas por ativistas sérvios, protagonizaram a queda de Milosevic, líder do Partido Socialista. Nos anos 90, ele cometeu grandes atrocidades, promoveu genocídios e regia a Sérvia como se ainda existissem União Soviética e Cortina de Ferro. Renunciou em setembro de 2000 e foi preso logo em seguida. 

Primavera Árabe: Também conhecida como “Revolução Facebook”, começou em 2010, quando um jovem tunisiano ateou fogo ao próprio corpo, em protesto contra a corrupção e a situação econômica do país. Sua ação extrema chocou a Tunísia e rapidamente se tornou um símbolo de resistência, que se espalhou pelo Egito, Líbia e Síria. 

No Egito, milhões de pessoas se reuniram na Praça Tahrir, no Cairo, para exigir a saída do presidente Hosni Mubarak, há 30 anos no poder. Mubarak renunciou em fevereiro de 2011. 

Na Líbia os conflitos foram os mais violentos da Primavera Árabe, com os manifestantes lutando contra o governo de Muammar Gaddafi. O ditador foi perseguido por civis e militares, e bestialmente executado em uma sarjeta próxima de um bueiro em que se escondia. 

Ucrânia derruba presidente fantoche: Em novembro de 2013, os ucranianos foram às ruas para protestar contra Viktor Yanukovich, responsável por cancelar um acordo econômico de integração à União Europeia, encarado como uma forma de atender aos interesses da Rússia. Uma onda de protestos e levantes populares contínuos ocorreram até fevereiro de 2014, quando Yanukovich se viu acuado e fugiu de helicóptero para a Bielorrúsia.

Venezuela, 2024: Desde Chávez em 2000, parcelas do povo venezuelano se levantam contra o regime socialista, mas agora, pelas variáveis descritas neste artigo, é possível afirmar que o povo venezuelano já venceu. A comunidade internacional dos países democráticos - ou que pretendem se estabelecer como tal - já reconheceu a vitória da oposição frente ao ditador Maduro. 

Hoje observamos a mesma soberania popular que derrubou tiranos e legitimou novos governos ao longo da história nas ruas de todas as cidades da Venezuela

Entretanto, como dizia o cientista político Gene Sharp, “após a queda de um ditador inicia-se um longo ciclo contínuo de luta pela liberdade”. 

O Brasil é espelho distorcido, por graus de intensidade, do que vive a Venezuela na atualidade. Oxalá nosso despertar ocorra antes que degenere totalmente à condição venezuelana. Se isso acontecer, já sabemos: o povo aqui também vencerá. 

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Conteúdo editado por: Aline Menezes

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