Novo Senado, “velha política”. A prática de esbanjar dinheiro com viagens internacionais não apenas foi mantida no início da atual legislatura – houve uma explosão de gastos. Nos primeiros quatro meses, os senadores gastaram 120% a mais do que no mesmo período do ano ado. Já são R$ 818 mil, contra R$ 368 mil do ano anterior. É mais do que o total das despesas feitas em 2017. E não há controle nos gastos: uma agem para evento em Doha (Catar) pode custar R$ 19,4 mil ou R$ 36,6 mil.
O “troféu Marco Polo” – tradicional no Congresso – vai para Roberto Rocha (PSD-MA) por enquanto. Ele já torrou R$ 68 mil entre bilhetes aéreos e diárias. Apenas a agem para Washington (EUA) ficou por R$ 27 mil. A senadora Soraya Thronicke (PSL-MS), por exemplo, pagou R$ 6,6 mil por uma agem para Nova York (EUA). Rocha esteve na capital americana para fazer exposição sobre o tema “Uma perspectiva congressional sobre a relação espacial Brasil-EUA”.
Ele ainda gastou mais R$ 36 mil para participar da Thaifex, a “maior feira de alimentos da Ásia”, em Bangkok (Tailândia), onde apresentou a empresários “potencialidades para investir no Maranhão”. Foram R$ 20,3 mil em agens e R$ 15,7 mil com nove diárias.
A viagem mais cara foi feita pelo senador e ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT-BA). Foram R$ 48 mil, sendo R$ 38 mil em agens. Ele participou de “missão oficial do governo da Bahia”, juntamente com o governador Rui Costa, mas quem pagou a conta foi o Senado. Wagner está em segundo lugar no ranking de gastos, com R$ 66 mil, porque também esteve em Montevidéu (Uruguai), participando de reuniões do Mercosul.
A comitiva de quatro senadores que foi à Doha participar da 140ª Assembleia da União Interparlamentar, em abril, fez uma despesa total de R$ 126 mil. Só em agens foram R$ 80 mil, sem contar a de Sérgio Petecão (PDS-AC), que ainda não foi lançada. O curioso é que a agem de Antônio Anastasia (PSDB-MG) ficou por R$ 19,4 mil, enquanto a de Eduardo Braga (MDB-AM) saiu por R$ 36,6 mil. A de Jarbas Vasconcelos (MDB-PE) custou R$ 23,3 mil.
Aconteceu algo semelhante em viagem a Barcelona (Espanha), onde aconteceu a GSMA Mobile Word, evento na área de tecnologia e telecomunicações. A agem de Arolde Oliveira (PSD-RJ) custou R$ 17,8 mil, já a de Esperidião Amin (PP-SC), R$ 30,3 mil.
Procurado pelo blog, o Senado reconheceu que “a flutuação no valor das agens aéreas é grande, o que foge da competência do Senado Federal. É comum bilhetes emitidos no mesmo voo apresentarem diferenças expressivas”. Mas destacou que, “antes da emissão, as opções de tarifas mais baratas são encaminhadas aos gabinetes solicitantes”.
O senador Chico Rodrigues (DEM-RR) foi a Toronto, em março, participar da Prospectors and Developers Association of Canada, a maior feira anual de exploração mineral do mundo. Foi lá que o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, anunciou às maiores mineradoras do planeta que o governo Jair Bolsonaro pretende liberar a mineração em terras indígenas. Pois bem, a agem do senador custou R$ 30,6 mil. No site da empresa aérea que fez o voo, a Air Canada, encontra-se voo do Brasil para Toronto por R$ 5 mil. Já na Business Class, fica por R$ 31 mil.
Nelsinho Trad (PSD-MS) gastou R$ 28,6 mil numa agem para Beirute, onde foi participar da 60ª Conferência do Potencial da Diáspora Libanesa. No seu discurso, falou da promoção de parcerias e acordos bilaterais, sobre suas raízes árabes e a descendência libanesa. O senador Trad foi recebido pelo presidente da República do Líbano, Michel Aoun, que o condecorou com uma medalha.
Jaques Wagner disse que esteve em Pequim a convite da Embaixada da China e que, na ocasião, “foram firmadas parcerias que resultarão em significativos investimentos no estado da Bahia”. Acrescentou que não viajou de 1ª classe.
Roberto Rocha afirmou que, em Washington, compôs a Cúpula Espacial EUA-Brasil, na qual o governo brasileiro assinou o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas para uso comercial do Centro de Lançamento de Alcântara, localizado no seu estado. Ele palestrou na Câmara de Comércio Brasil-EUA sobre as “potencialidades e oportunidades de negócios” para o Maranhão, como o projeto que cria a Zona de Exportação do estado.
Quanto ao valor das agens aéreas, afirmou que todas elas foram compradas pela Diretoria-Geral do Senado. “É por lá que são emitidos os bilhetes aéreos para missões oficiais internacionais. Adianto que as viagens ocorreram na classe executiva”.
Esperidião Amin disse que a GSMA Mobile Word “oportunizou o aprofundamento dos debates sobre a evolução e o futuro de importante setor na conjuntura nacional e internacional”. Questionada sobre a diferença de preço nas agens, a sua assessoria disse que “não foi utilizada primeira Classe.
A delegação da participação do senador na comitiva foi aprovada no plenário apenas no dia 19 de fevereiro e o embarque para Barcelona foi no dia 24 de fevereiro. Com a proximidade da data de embarque, as aéreas cancelaram as reservas. Com isso foram feitas novas reservas para a classe executiva nas poltronas remanescentes, o que implicou no preço diferenciado”.