O suplente Wirlande da Luz (PMDB-RR) assumiu a vaga do senador Romero Jucá (PMDB-RO) em 17 de maio de 2016. Deixou o mandato após uma semana porque o titular teve que renunciar ao cargo de ministro do Planejamento, acusado de interferir nas investigações da Lava Jato. Mas o senador Wirlande aproveitou bem aquela semana. Recebeu duas ajudas de custo no valor de R$ 75 mil, atualizado, mais R$ 8,4 mil de salário. Gastou R$ 10,9 mil com sete agens aéreas – cinco delas para servidores.
O senado Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) deixou uma beira do mandato para o suplente Sodré Santoro, milionário colecionador de carros de luxo. O suplente ficou 25 dias no mandato, em janeiro de 2015, e recebeu R$ 63 mil entre salário proporcional e uma ajuda de custo. No dia 29 de janeiro, dois dias antes de deixar o mandato, contratou a consultoria jurídica da Diniz, Vieira e Strauber Advogados por R$ 35 mil. Naquele período, o Congresso estava de recesso. Ele já havia recebido mais R$ 75 mil – atualizados – por quatro meses de mandato no início de 2013.
Em 2019, Zé Santana (MDB-PI), segundo suplente do senador Wellington Dias (PT-PI), fez a festa em 49 dias de mandato. Recebeu duas ajudas de custo e usou R$ 38 mil do cotão, com o Congresso de recesso. Ele alugou uma Trailblazer por R$ 10 mil – o mesmo carro que era utilizado pela senadora Regina Sousa (PT), a primeira suplente. Gastou R$ 5 mil com combustível e fretou um avião por R$ 6,7 mil para fazer uma visita a Parnaíba (PI). Ainda gastou R$ 9,6 mil com agens aéreas e R$ 5,8 mil com divulgação do mandato.
A suplente Ione Guimarães (PTB-GO) esteve no mandato por 57 dias, em setembro e outubro do ano ado, na vaga de Lúcia Vânia (PSB-GO). Nesse período, ela fez ou tour gastronômico por Brasília. Só na SB Churrascaria ela gastou R$ 2,3 mil em quatro refeições. A mais cara delas custou R$ 670. A refeição na Trattoria Moderna ficou por R$ 526. Na Nau Frutos do Mar, a despesa chegou a R$ 447. Esteve ainda na Churrascaria Fogo de Chão, no Coco Bambu, no Manzua e na Belana, todos restaurantes muito frequentados por parlamentares, por conta do dinheiro do contribuinte. Ione recebeu ainda duas ajudas de custo, R$ 10,5 mil de auxílio-moradia e R$ 5,2 mil de 13º salário proporcional.
Sadi Cabral (PT-TO) ocupou a vaga de Leomar Quintanilha (PMDB-TO) por seis meses de 2009 a 2010, quando o titular ocupou a Secretaria de Educação. O breve mandato teve uma interrupção de cinco dias em novembro. Naquele período, Sadi recebeu três ajudas de custo, um total de R$ 86 mil. E também utilizou R$ 22,5 mil do cotão. O petista também frequentou bons restaurantes em Brasília. Gastou R$ 347 no Francisco e esteve duas vezes no Potencia Gril, fazendo despesas de R$ 439 e R$ 723. É o famoso “auxílio-banquete” do Senado.
Um tratamento de saúde do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) abriu caminho para a posse de Fernando Ribeiro, do mesmo partido, em 2015. Com dois meses e nove dias no cargo, recebeu duas ajudas de custo. Usou R$ 40 mil, em valores atualizados, da cota para o exercício do mandato. A maior parte foi gasta com agens – R$ 33 mil. Só em março foi reembolsado por 13 agens, quatro delas para servidores. O senador também esteve em Salvador.
Alguns senadores escolhem parentes próximos para a suplência por ocasião do registro da candidatura eleitoral. Ao assumir o Ministério das Minas e Energia, em janeiro de 2015, o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) deixou a vaga para a mulher, Sandra Braga, do mesmo partido. Ela ficou 16 meses no cargo e recebeu duas ajudas de custo.
Gilvan Borges (PMDB-AP) tirou licença e abriu vaga para o irmão Geovani Borges (PMDB), em abril de 2011. Em oito meses de mandato, ele utilizou R$ 494 mil da verba para o exercício do mandato, em valores atualizados. Gastou R$ 207 mil com aluguel de carros. Gilvan Borges sempre teve apreço pela família. Em 1997, contratou a mulher e a mãe como assessoras no seu gabinete. Questionado sobre o feito, respondeu, sem cerimônia: “Confiança é confiança. Uma dorme comigo e a outra me pariu”.
Pai do senador Ivo Cassol (PP), o suplente Reditário Cassol assumiu o mandato por quatro meses e meio em 2018. Gastou R$ 149 mil do cotão, sendo R$ 107 mil com divulgação. Ele já havia assumido o mandato por quatro meses em 2011. Levou uma ajuda de custo por cada breve mandato.
O levantamento feito pelo blog apurou 62 suplentes que assumiram o mandato em 15 anos. A relação foi fornecida pelo Senado em resposta à solicitação feita com base na Lei de o à Informação. Em 35 casos, o período de mandato ficou em torno de 4 meses. Em 11 casos, variou de 1 a 3 meses. Por duas vezes, o mandato durou uma semana. Os demais casos foram em períodos maiores, quando os suplentes ocuparam o mandato de titulares que estavam ocupando cargos de ministros de Estado ou de secretários estaduais.
O Senado informou que os suplentes recebem ajuda de custo no início e ao término de seu primeiro exercício do mandato. Caso eles retornem por ocasião de novo afastamento do titular, a ajuda de custo não é paga novamente. O Decreto Legislativo nº 276/2014 não estabelece prazo mínimo de exercício de mandato para pagamento da ajuda de custo.
A ajuda de custo incialmente era paga no início e no final de cada ano. Também eram devidas nos casos de convocação extraordinária do Congresso, uma no início e outra no final. Em alguns anos, foram pagas até seis ajudas de custo. A partir de 2006, foram extintas as ajudas no caso de convocações.
A partir de 2014, rebatizada com o nome de auxílio-mudança, ou a ser paga no início e no final de cada legislatura, que dura quatro anos, para “para compensar as despesas com mudança e transporte”, como diz o Decreto Legislativo 276/14. Mas também vale para os breves mandados dos suplentes, mesmo que durem apenas seis dias.