
Os valores foram apurados pela Associação Contas Abertas, a partir de dados do Orçamento da União, e atualizados pela inflação. São grandes obras como rodovias, ferrovias, construção de barragens, adutoras, com destaque para Transposição do Rio São Francisco. Estão disponíveis os dados de execução orçamentária de 2008 a 2021. Assim, estão computados apenas os últimos três anos dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva.
Bolsonaro conhece esses números, mas procura relativizá-los. No discurso de inauguração do Núcleo de Controle Operacional da Transposição do São Francisco, em Salgueiro (PE), em fevereiro deste ano, afirmou. “Os números não mentem. Nós tivemos o Brasil istrado por 14 anos por um pessoal que levantava a bandeira vermelha. Falando em números, o total dessa obra deve ficar em R$ 14 bilhões. Água para o Nordeste”. Citou, então, que o BNDES, “ao longo de 14 anos de istração vermelha, enfrentou desvios ou projetos malfeitos, mal geridos, um prejuízo na ordem de 500 bilhões de reais. Então comparem R$ 500 bilhões com R$ 14 bilhões”.
Vamos aos números. Considerando apenas o Eixo Norte da Transposição, que beneficia municípios de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, os investimentos chegaram R$ 10,8 bilhões. O governo Bolsonaro entrou com R$ 1,3 bilhão – cerca de 12% do total. Os governos petistas já haviam aplicado R$ 7,9 bilhões. Só de 2013 a 2016, Dilma Rousseff injetou R$ 4,6 bilhões na obra.
Somando com o Eixo Leste, que beneficia prioritariamente Pernambuco e Paraíba, os valores da Transposição chegam a R$ 18 bilhões, sendo R$ 1,6 bilhão executado no governo Bolsonaro – 9% do total. Os governos petistas entraram com R$ 13 bilhões. Em março de 2017, o então presidente Michel Temer inaugurou o Eixo Leste, em Monteiro (PB). Sobre a paternidade da obra, foi diplomático. “A obra ou por vários governos, que merecem o aplauso de todos. São os senhores que pagaram”. Seu governo colocou R$ 1,3 bilhão no empreendimento.
Bolsonaro investiu também em obras complementares à Transposição, para atender a municípios distantes dos eixos principais. O sistema adutor Ramal do Agreste, por exemplo, captará água na barragem Barro Branco, em Sertânia (PE), com desague no reservatório Ipojuca, em Arcoverde (PE). Atenderá 2 milhões de pessoas em 71 municípios. Iniciada em 2005, obra já recebeu R$ 2,8 bilhões, sendo R$ 996 milhões na era Bolsonaro. O ramal será interligado à Adutora do Agreste, que consumiu mais R$ 1,6 bilhão. O atual governo colocou R$ 314 milhões na obra. A maior parte foi executada nos governos petistas – R$ 966 milhões.
As obras do Canal Adutor do Sertão Alagoano, mais conhecido como Canal do Sertão, foram iniciadas em 1992, com recursos do Estado. Mas foram suspensas no ano seguinte e retomadas somente em 2002. Pela falta de recursos, paralisações por falhas nos projetos e identificação de sobrepreço pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a obra de arrasta há 30 anos. Bolsonaro “inaugurou” duas etapas, em 2020 e 2021. Serão oito até que o projeto esteja concluído. Com 250 km de extensão, o canal atenderá 42 municípios até Arapiraca (AL).
Na segunda inauguração, em maio do ano ado, Bolsonaro falou com orgulho do projeto: “Esta obra aqui no nosso Estado de Alagoas é mais uma das tantas que, graças a Deus, estamos conseguindo concluir ao longo do nosso mandato, obras que pareciam infindáveis, mas com a equipe de ministros competentes, como aqui Rogério Marinho, estamos conseguindo fazer isso aí”. De 2008 a 2015, os governos da “bandeira vermelha” injetaram R$ 2,8 bilhões na obra; Temer, R$ 440 milhões; Bolsonaro, apenas R$ 211 milhões.
Outra obra que atravessou décadas foi a pavimentação da rodovia Cuiabá-Santarém – BR-163. A implantação em estrada de terra teve início em 1971, no governo Médici. A primeira inauguração ocorreu em 1976, já no governo Ernesto Geisel. Bolsonaro concluiu os 71 quilômetros que faltavam. Na inauguração, ele contou que a obra começou a ser tratada com Tarcísio Freiras na transição do governo, no final de 2018. “Governar é eleger prioridades, é também não deixar obras paradas”, cutucou o presidente. Ele colocou R$ 354 milhões na obra. Temer, mais R$ 457 milhões. Desde 2008, os governos petistas injetaram R$ 3 bilhões na rodovia que era o terror dos caminhoneiros do Norte.
Em três anos, o governo Bolsonaro investiu R$ 1,1 bilhão na Ferrovia Oeste-Leste (Fiol), trecho Caetité-Barreiras (BA). Isso representa 38% do valor total executado – R$ 2,9 bilhões. Em setembro de 2020, durante o “Ato alusivo à visita às obras da Ferrovia”, em São Desidério (BA), o presidente disse que sua prioridade era terminar as obras já começadas. “Essa grande obra que está sendo concluída aqui, nos próximos anos, será efetivada, nos ligando com o resto do Brasil”.
Em cinco anos de governo Dilma, os investimentos nesse trecho ficaram em R$ 860 milhões. Mas os governos petistas já haviam aplicado R$ 4,6 bilhões em outro trecho, de Ilhéus a Caetité. Somando os dois trechos, no valor de R$ 7,6 bilhões, os investimentos do atual governo ficaram em R$ 1,2 bilhões – ou 16% do total. A ferrovia completa terá 1.527 km, de Ilhéus a Figueirópolis (TO), onde fará conexão com a Ferrovia Norte-Sul.
As obras de Norte-Sul tiveram início em 1987, com um trecho de 215 km no Maranhão. A conclusão ocorreu após nove anos. A construção foi retomada no primeiro mandato de Lula, com muitos atrasos. Em 2014, Dilma inaugurou um trecho de 855 km de Porto Nacional a Anápolis. Em 2011, a presidente deu início ao trecho de Ouro Verde (GO) a Estrela D’Oeste (SP).
Como mostra a execução do Orçamento da União, os governos petistas investiram R$ 4,9 bilhões no trecho Palmas-Uruaçu (GO), R$ 4,6 bilhões no trecho Ouro Verde-São Simão (GO) e R$ 980 milhões no trecho Ouroeste-Estrela D’Oeste (SP). Em leilão realizado em 2019, o governo Bolsonaro transferiu à iniciativa privada um trecho de 1.537 km da Norte-Sul, de Porto Nacional a Estrela D’Oeste. A ferrovia foi arrematada pela Rumo Logística por R$ 2,7 bilhões, num contrato de concessão de 30 anos. A empresa está concluindo as obras e construindo terminais de carga.
O blog já havia mostrado a corrida armamentista entre Bolsonaro e os últimos três presidentes. A maior média anual de gastos é de Temer – R$ 7,6 bilhões. Mas o maior volume de recursos foi investido pelos governos petistas – R$ 38 bilhões. Bolsonaro tem mantido os investimentos no reaparelhamento das Forças Armadas iniciados nos governos do PT. Em três anos, gastou R$ 18,5 bilhões – média anual de R$ 6,2 bilhões. Nos cinco anos e quatro meses de mandato, Dilma investiu R$ 30,5 bilhões – média de R$ 5,7 bilhões.
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