Sempre achei que o foco de qualquer governo preocupado com a justiça social deveria ser o combate à miséria e à pobreza, não à desigualdade. Façamos uma comparação entre dois países hipotéticos, Prosperistão e Igualistão.

Em Prosperistão, o primeiro país hipotético, a desigualdade é alta, mas os 10% mais pobres conseguem morar e se alimentar bem; têm o a trabalho, dignidade e a serviços básicos de qualidade, em educação, segurança, saúde e transporte; existem oportunidades para todos os cidadãos crescerem e realizarem seu potencial, sem ficar pendurados para o resto da vida em uma mesada do Estado.

Em Prosperistão, a desigualdade não será um problema, ao contrário: pode ser até condição para a inexistência da miséria.

Já o segundo país hipotético, Igualistão, é altamente igualitário, isto é, apresenta uma diferença mínima entre o piso e o teto da renda, mas... Tem um piso de renda insuficiente para uma família viver com dignidade, não oferece o a educação e saúde, e os índices de criminalidade e corrupção são altíssimos.

Qual dos dois países hipotéticos é mais justo socialmente? Ou, formulando a pergunta de outra maneira: em qual dos dois países os 10% mais pobres prefeririam viver?

Não é só isso: em condições normais, os 10% mais ricos são fundamentais para o funcionamento da economia, porque geram emprego e renda. E, salvo em países socialistas, onde a igualdade é imposta na marra, a riqueza é causa e consequência do empreendedorismo, não da atuação do governo.

Não são os governos que geram riqueza: o máximo que um governo pode fazer é ajudar ou atrapalhar na geração da riqueza – via tributação, regulação de mercados e outras políticas. Mas não há registro na História de um país que tenha prosperado criminalizando os ricos e condenando os pobres à dependência perpétua de ajuda estatal.

Esse viés recorrente na nossa maneira de lidar com a questão da justiça social tem outro aspecto preocupante: incutir a culpa na cabeça dos mais ricos, como se prosperar fosse pecado; e incutir, na cabeça dos mais pobres, o ressentimento, que está sempre a um o do desejo de vingança: “Se eu sou pobre, é porque ele é rico, então eu tenho o direito de tomar a parte que me cabe”.

Ora, como sempre haverá alguém mais rico, e sempre haverá 10% de mais ricos no país, por mais que ele empobreça, esse ressentimento só se resolverá quanto todos tiverem rigorosamente a mesma renda - e ela não será alta.

A situação fica mais preocupante quando se constata que hoje, em alguns estados do Nordeste, para fazer parte do 10% mais ricos basta ter uma renda mensal de R$ 2.300; em Minas Gerais, R$ 3.200; no Paraná, R$ 3.400; no Rio de Janeiro, R$ 4.200; em São Paulo, R$ 4.600. Se você, leitor, tem uma renda superior a estas, tome cuidado: você faz parte dos 10% da população que são responsáveis pela desigualdade - e fariam bem em deixar de existir, para o Brasil se tornar um país melhor.

VEJA TAMBÉM: