encerrado ontem, realizado em Astana, capital do Cazaquistão. Ding e Nepo (como ele é compreensivelmente chamado, já que seu sobrenome é impronunciável) venceram três partidas cada um, com oito empates.
É raro ver em competições desse nível uma proporção tão grande de partidas decididas: para citar apenas um exemplo, o primeiro e histórico match entre Karpov e Kasparov, em 1984/85, teve 40 empates e apenas oito partidas decididas.
Isso porque, já há várias décadas, os grandes mestres de xadrez se tornaram especialistas da defesa, construindo posições inexpugnáveis no tabuleiro a partir de diferentes aberturas, o que tornou os empates cada vez mais frequentes - e, muitas vezes, tediosos.
Mais importante ainda que o placar foi a forma como os dois jogadores conduziram as partidas. Kasparov e Carlsen jogavam como máquinas, sem errar, mas também sem correr grandes riscos. Derrotas dos dois enxadristas eram raríssimas. Não eram humanos.
Já Ding Liren e Ian Nepomniachtchi devolveram uma face humana à disputa pelo título mundial de xadrez. E isso é bom.
Para surpresa de todos os comentaristas, um e outro jogaram de forma impetuosa e se aventuraram em variantes e lances inesperados, com a vantagem trocando de lado várias vezes ao longo da mesma partida, o que também é bastante incomum nesse nível.
Isso significa dizer que ambos cometeram muitos erros, é verdade. Mas os erros tornaram a disputa muito mais interessante. Pela primeira vez em muito tempo, os aficionados do xadrez tiveram a sensação de assistir a um match pelo campeonato mundial disputado entre dois indivíduos de carne e osso, sujeitos a falhas, e não entre dois computadores humanos.
Os momentos finais da última partida, no vídeo acima, chegam a ser comoventes – e são reveladores dos diferentes temperamentos dois mestres.
Nepo, que era o favorito, não esconde sua frustração após abandonar a partida em uma posição completamente perdida: ele sai rapidamente de cena, gesticulando, irritado. Já Ding Liren, em vez de comemorar o feito inédito ou mesmo sorrir, cobre o rosto com as mãos por longos segundos, contendo a emoção.