A linguagem política destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e o crime se torne respeitável. A heresia das heresias é o bom senso. Ver aquilo que temos diante do nariz requer uma luta constante. Descemos a um ponto tal que a reafirmação do óbvio é o primeiro dever dos homens inteligentes.
- O que o senhor diria sobre a narrativa do "nós contra eles", que divide e envenena a sociedade brasileira?
ORWELL: Toda guerra quando chega, ou antes de chegar, é representada não como uma guerra, mas como um ato de autodefesa contra um maníaco homicida. (E) a consciência de estar em guerra, e portanto em perigo, faz parecer natural a entrega de todo poder a uma pequena casta.
- E o que diria sobre o papel da grande mídia nesse processo?
ORWELL: Quem controla o ado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o ado. Se o pensamento corrompe a linguagem, a linguagem também pode corromper o pensamento. Houve um tempo em que se considerava sinal de loucura acreditar que a Terra girava em torno do Sol. Hoje, o sinal de loucura é acreditar que o ado é inalterável. Guerra é Paz. Liberdade é Escravidão. Ignorância é Força. (Mas o verdadeiro) jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade.
- O que o senhor acha dos sinais emitidos até aqui pelo Governo eleito, sobretudo na área econômica?
ORWELL: Algumas ideias são tão estúpidas que apenas um intelectual pode acreditar nelas, já que o homem comum não consegue ser tão tolo.
“Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota pisando em um rosto humano para sempre”
George Orwell
- Mudando de assunto: como o senhor avalia os crescentes ataques à liberdade de expressão no Brasil?
ORWELL: Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir. A liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro. Quando se concorda nisso, o resto vem por si.
- Mas por que esses ataques só acontecem contra a direita e os conservadores?
ORWELL: Os animais são todos iguais, mas uns são mais iguais que outros.
- Ainda é possível ficar otimista?
ORWELL: Quem está ganhando no momento sempre parece ser invencível. (Mas) os sentimentos elevados vencem sempre no final; os líderes que oferecem sangue, trabalho, lágrimas e suor conseguem sempre mais dos seus seguidores do que aqueles que oferecem segurança e diversão. Quando se chega às vias de fato, os seres humanos são heroicos.
- O que o senhor acha que pode acontecer, no futuro?
ORWELL: Poder não é um meio, mas um fim. Não se estabelece uma ditadura para proteger uma revolução: faz-se a revolução para instalar a ditadura. Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota pisando em um rosto humano para sempre.
- O que os cidadãos comuns podem fazer?
ORWELL: Bastava-lhes levantar e sacudir-se, como um cavalo sacode as moscas. (Mas) eles jamais se rebelarão se antes não se tornarem conscientes, e só poderão se tornar conscientes após se terem rebelado. (Por outro lado), a maneira mais rápida de acabar com uma guerra é perdê-la. Num tempo de engano universal, dizer a verdade é um ato revolucionário. Toda piada é uma pequena revolução.
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