Mas, na Sorbonne, cuja fachada agora ostenta um crescente, o símbolo islâmico, as funcionárias são obrigadas a usar véu. Um colega medíocre de François se converte à nova religião, adota a poligamia – agora incentivada – e com isso ascende meteoricamente na carreira. François, por sua vez, é induzido a se aposentar.
Politicamente incorreto e misógino, François é cruel consigo mesmo, com seus colegas e com suas amantes eventuais. Vive à deriva, sem laços familiares ou emocionais consistentes, e mesmo a sua maior paixão intelectual – a obra do escritor J.-K. Huysmans, tema de sua tese – já não desperta nele o menor entusiasmo. François acompanha tudo como um espectador quase indiferente, com uma neutralidade que pode ser chocante para o leitor.
Articulando o drama individual do protagonista com a exposição de um contexto coletivo transformação social radical, Submissão faz uma crítica poderosa e devastadora à perda dos valores da sociedade europeia contemporânea.
Como romance de antecipação, Submissão foi comparado a 1984, de George Orwell, e irável mundo novo, de Aldous Huxley. Mas a distopia de Houellebecq tem a peculiaridade de estar logo ali. Ela se torna ainda mais assustadora por tratar de temas de hoje, citando políticos em plena atividade. É, por assim dizer, uma distopia do presente.
Por sua atitude iconoclasta, que envolve provocações explícitas à esquerda, e por sua visão ácida do mundo acadêmico, Houellebecq foi acusado de oportunismo e de alimentar posições reacionárias com seu romance.
Bobagem. Ele apenas materializou de forma ficcional angústias que estavam e estão nos corações e mentes dos europeus nativos. Ele foi apenas o mensageiro de más notícias - que hoje são ainda piores que na época do lançamento do livro.
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