Longe de ser um acadêmico enclausurado em uma torre de marfim, Friedman foi um espectador engajado das grandes controvérsias econômicas do seu tempo. Já no fim da vida, criou uma série de TV que foi assistida por mais de 3 milhões de pessoas, “Free to chose” (“Livre para escolher”): cada episódio começava com uma breve análise de um sucesso do capitalismo e de um fracasso do socialismo. A série virou um livro, que foi adotado como Bíblia por líderes de diversos países do antigo bloco comunista. Em 1991, Mart Laar, primeiro-ministro da recém-independente Estônia, citou explicitamente “Livre para escolher” como sua fonte de orientação primária em política econômica. Não por acaso, a economia da Estônia foi durante muitos anos a que mais cresceu na Europa.

Outro tema importante – e particularmente atual – abordado no livro é a polêmica tese de Friedman sobre a FDA, a agência americana que aprova novos medicamentos. Comparando o número de vidas que a FDA salvou, ao barrar medicamentos ruins, com o número de vidas perdidas por sua ineficiência em liberar medicamentos bons, o economista concluiu que a FDA deveria ser fechada. Além da matemática, ele usou outro argumento, assim descrito por Landsburg:

“Enquanto existir a FDA, ocorrerão acertos e erros: a aprovação de alguns medicamentos prejudiciais e a proibição ou atraso na aprovação de outros medicamentos que poderiam salvar vidas. O primeiro tipo de erro domina as manchetes: ‘Mãe de três crianças morre após ingerir medicamento aprovado pela FDA’. O segundo tipo é invisível. Ninguém lê uma manchete que diz: ‘Pai de duas crianças morre de ataque cardíaco que poderia ter sido evitado caso a regulação da FDA não impedisse o desenvolvimento da droga que o teria salvado’. Dada essa assimetria, a FDA prefere cometer o segundo tipo de erro e, portanto, erra mais nessa direção”.

Participando de um debate com líderes estudantis (de esquerda, desnecessário dizer), Milton Friedman afirmou que, no funfo, eles queriam as mesmas coisas – liberdade individual, pluralismo e prosperidade para as massas. “A única diferença entre nós”, concluiu com um sorriso, “é que eu sei como alcançar essas coisas, e vocês não”.

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