Os 25 centavos podem parecer pouco, mas o novo preço, além de minar um dos patrimônios da rede que virou sinônimo de 1 dólar, representa um reajuste histórico e serve de alerta para a explosão inflacionária que afeta os Estados Unidos.

A justificativa dos executivos era de que há tempos a manutenção do preço único, em 1 dólar, já vinha se mostrando insustentável. Mas, no último ano, a Dollar Tree se viu em meio a um paradoxo. Os primeiros efeitos da pandemia de Covid-19 na economia americana fizeram um bem danado para a empresa e suas concorrentes que atuam no “mercado 1 dólar”. Lockdowns, desemprego e a consequente queda da renda levaram os americanos a recorrer como nunca aos produtos de baixo custo. Estima-se que 88% das pessoas recorreram a estas lojas para comprar alimentos e produtos de higiene pessoal, por exemplo.

Tudo seria perfeito se não fosse um efeito colateral da pandemia, que daria as caras meses depois. O apagão logístico. A falta de contêineres e a interrupção no fornecimento levou à escassez e consequente elevação nos preços, seja nos provedores chineses, seja na ponta. O sucesso durou pouco.

O resultado não poderia ser outro: inflação. Ou seja, 1 dólar não é mais 1 dólar.

Esta mudança pode ter um efeito sombrio. O mesmo pessoal que recorreu às lojas de 1 dólar em meio à pandemia, como estratégia de sobrevivência, perdeu 25% de seu poder de compra naquela que era sua opção mais barata. Por exemplo, uma pessoa que com 4 dólares conseguia voltar para casa com um pacote de pão, um litro de leite, um saco de batatas para fritar e salsichas, terá que deixar para trás um dos produtos, ou pagar 1 dólar a mais pela compra.

Pode parecer insólito, mas alguns dos problemas que a maior economia do planeta enfrenta podem ser medidos em 25 centavos. Eles parecem pouco, mas podem fazer a diferença para quem conta moedas na hora de pagar a conta. Sobretudo para quem realmente precisa das lojas de 1 dólar para viver.

Em escala, eles pesam não só na vida dos mais pobres. Os centavos elevaram o preço da gasolina, que já é 40% maior que há um ano atrás. Também deixaram amargas as contas de gás e da energia elétrica.

O efeito cascata é inevitável e faz a rápida retomada dos empregos com o arrefecimento dos impactos da Covid-19 na economia não ter o efeito exuberante que deveria. As pessoas estão voltando a ter salários, retomando o consumo de produtos que não têm a mesma oferta pré-pandemia. A pressão gera inflação, que por sua vez corrói o poder de compra dos americanos.

É comum ver as prateleiras de supermercados vazias e alguns produtos simplesmente desapareceram. No lugar estão surgindo marcas novas, de pior qualidade e preços idênticos ou mais altos que os praticados anteriormente para bens de consumo melhores. Nada exemplifica melhor o resultado de uma busca na Amazon. A quantidade de lixo despejada no mercado é assustadora. Comprar on-line exige paciência em checar avaliações para mitigar o risco de comprar mercadorias de baixa qualidade ou até mesmo imitações.

A inflação está corroendo o poder de compra do dólar. Um de seus efeitos a longo prazo pode ser a deterioração de um mercado exigente, que tinha por característica ser destino de produtos com melhor qualidade. Os episódios de escassez e os preços estão remodelando os padrões e os americanos parecem que estão aprendendo a tolerar e a consumir produtos cada vez mais caros e piores.

Se a estratégia da Dollar Tree der certo, em um futuro não muito distante as mesmas quinquilharias que outrora custavam 1 dólar serão vendidas por bem mais e poderão ser cada vez mais assimiladas pelo americano comum.

Tomara que não.

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