Em julho de 2018, o general Soleimani lançou uma ameaça aos americanos: “Venham. Estamos esperando. Vocês podem começar uma guerra, mas somos nós que determinaremos o seu fim”. E a sua morte tem sido entendida como um ato de guerra. Em certa medida é algo correto. Mas não é o tipo de guerra convencional. O Irã provocou, mas não esperava o golpe. Portanto, vai tentar retaliar na justa medida. É assim que eles trabalham. É assim que os Quds agem. O caso argentino é o melhor exemplo do modus operandi iraniano.
Em 1992, as relações entre Argentina e Irã se desmantelaram depois que o então presidente Carlos Menem determinou o cancelamento de um contrato de transferência de tecnologia nuclear para os iranianos. Teerã entendeu como uma traição e um golpe fatal para colocar de pé os seus sonhos nucleares interrompidos em 1979, quando os alemães da Siemens deixaram o país sem concluir a usina nuclear em construção. O rompimento com o Irã coincidiu com a morte do secretário-geral do Hezbollah, o clérigo xiita Abbas al-Musawi, em um ataque aéreo de Israel. Al-Musawi morreu juntamente com sua mulher, o filho e seu corpo de guarda-costas. A ação foi uma retaliação ao assassinato de três militares israelenses dois dias antes. As semelhanças com eventos da semana são didaticamente surpreendentes.
Em 18 de fevereiro de 1992, dois dias depois da morte de Al-Musawi o líder espiritual do Hezbollah, o sheik Mohammad Hussein Fadlallah proferiu uma sentença de morte e de frieza: “Israel não vai escapar da vingança. Recebemos a mensagem de que não há nenhuma necessidade de responder de forma emocional”. Fadlallah completou que “haveria muito mais violência e correria muito mais sangue”. E assim foi. Um mês depois, às 14h45 de 17 de março de 1992, um carro-bomba explodiu depois de em frente à Embaixada de Israel em Buenos Aires. O duplo ato de vingança, que combinou uma punição aos argentinos e israelenses, foi reivindicado pelo grupo Jihad Islâmica, os mesmos “laranjas” do Irã no atentado em Beirute anos antes.
O exemplo argentino ensina que a reação iraniana segue uma lógica própria e não caminha para uma guerra regular. A tática deles é mais assemelhada com a de organizações terroristas do que com exércitos formais. É isso que os faz perigosos e imprevisíveis. Essa foi a escola de Soleimani. Esse é a alma dos Quds que ele formou e liderou. Mas não está por vir nenhuma III Guerra Mundial ou apocalipse. Os iranianos cobrarão a vida do líder por meio de prepostos que podem estar tanto na Europa, quando nos Estados Unidos ou mesmo na América Latina, como nos dois casos argentinos. Isso, portanto, não deixa ninguém a salvo. Nem o Brasil. O estado de alerta que os aiatolás imporão ao mundo deveria servir de lição para mostrar a marca terrorista que o Irã carrega em seu DNA. Mas, como o mundo anda de cabeça para baixo a conta ainda será debitada no cliente errado. Quer apostar?