A explicação não é simples ou evidente. Mas há pistas que indicam que chamar de corrupção o que a Lava Jato quase descobriu é uma liberalidade inocente.
O primeiro ano a apresentar esta distorção foi o de 2006. Lula vinha para a reeleição chamuscado pelo escândalo do Mensalão. Vencer era uma questão de vida ou morte para ele, o PT e a esquerda latino-americana.
A próxima anomalia foi registrada em 2011, primeiro ano do governo Dilma Rousseff. As delações indicam que parte dos US$ 520 milhões movimentados no caixa dois da Odebrecht serviram para pagar dívidas da campanha da presidente.
O terceiro ano em que a empreiteira lucrou menos do que pagou na sua máquina clandestina de corrupção e lavagem de dinheiro foi 2013. Uma ano-chave na Venezuela, quando Nicolás Maduro se elegeu para dar sequência ao legado de destruição de seu antecessor e criador Hugo Chávez.
Por fim, 2014. O ano da reeleição de Dilma. A Odebrecht reconheceu ter realizado pagamentos ilegais na ordem de US$ 450 milhões naquele ano. Enquanto o seu lucro líquido registrado em balanço foi US$ 211 milhões.
Em alguns casos, como na República Dominicana, o "suborno" assumido pela empreiteira brasileira superou em mais de um terço o valor do contrato. Por mais que possa ter havido corrupção – e houve – não é possível justificar tamanho fluxo financeiro apenas como sendo roubalheira.
A Lava Jato dormiu no ponto. O esquema desmontado por ela não afetou apenas os ganhos dos petequeiros e tubarões da política latino-americana. Há sinais claros de que interrompeu os dutos entre Estados criminalizados, partidos e projetos de poder. Circulou muito mais dinheiro do que a simples corrupção seria capaz de justificar.
Enquanto o pessoal de Curitiba festejava os avanços e o apoio popular em torno da Lava Jato, os bandidos se multiplicavam. E tal qual no mito da Hidra, as cabeças que surgiram da degola feita pelos procurados foram fatais. Devoraram a operação.
Lula se livrou por "questões meramente processuais" e a Lava Jato virou a vilã do Brasil. Na sessão do Supremo Tribunal Federal que gravou a lápide da operação, o ministro Ricardo Lewandowski reproduziu uma das teses mais cafajestes que os "críticos" da Lava Jato há tempos tentam emplacar. A de que o combate à corrupção quebrou o Brasil. A lógica de que o paciente morre de quimioterapia e não de câncer. O triste é que tem muita gente que já se convenceu. Realmente é muito triste.
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