É um problema que não está em vias de ser resolvido, e por uma razão bem simples: a única solução de verdade é fazer uma opção moral e ficar contra a ditadura venezuelana. Trata-se de algo que não está disponível. Lula, muito simplesmente, não sabe o que é uma opção moral. Além disso, ele é a favor, e não contra a ditadura de Maduro – não porque goste de Maduro, mas porque gosta de ditadura.
Se o governo da Venezuela conseguisse ser um pouco menos brutal do que é, o assunto não estaria tão em evidência e Lula não teria de apoiar tantas brutalidades. Mas o que acontece é justamente o contrário: a ditadura fica cada vez mais ditadura. Em seu último surto de tirania, proibiu, grotescamente, a candidata da oposição de concorrer à próxima eleição para presidente. A oposição apresentou uma segunda candidata: foi proibida também. Assim fica difícil.
O presidente Lula, aí, foi feito de palhaço duas vezes. A Venezuela prometeu ao Brasil e a outros países, por tratado internacional, que desta vez faria eleições limpas – e a primeira coisa que fez foi cassar a candidata Corina Machado. Lula, então, enfiou de vez o pé na jaca. Disse, num de seus piores momentos de grosseria, que a vítima da violência não deveria “ficar chorando”, e sim apresentar uma outra candidata em substituição. Corina fez precisamente isso – e Maduro impediu também a substituta. Não deu, aí, para a diplomacia de Lula continuar dando a cara para bater.
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Veio com uma nota aguada, covarde e burra dizendo que o Brasil estava “preocupado” com a evolução da farsa e tinha esperanças de que, no fim, o amor e a democracia pudessem vencer. É um disparate. A democracia não pode voltar à Venezuela enquanto os ditadores continuarem sendo ditadores e debochando das orações do Itamaraty com eleições como essa. Lula continua sendo a favor dos ditadores, porque não ite ficar contra. Xeque-mate.
O episódio, no fundo, deixa claro, mais uma vez, o desprezo da Venezuela pelo Brasil e por aquilo que o Brasil acha ou não acha. Lula, Janja, PT? Maduro, na vida real, não leva nada disso a sério – para ele, o Brasil é um país que disputa a segunda divisão e deve ser relegado ao departamento das preocupações secundárias. Nada deixou isso mais claro do que o tratamento que deram nesse episódio ao grande cérebro das estratégias diplomáticas de Lula, o chanceler-chefe Celso Amorim – não tiveram o trabalho, sequer, de atender os seus telefonemas.
Qual a surpresa? O que realmente interessa para a Venezuela é a China e a Rússia. Lula e Amorim podem ficar sentados na sala de espera. O presidente, numa declaração especialmente cretina, disse tempos atrás que a Venezuela era uma excelente democracia, porque “tem mais eleições que o Brasil”. Pode ser. O problema é que não pode haver candidatos da oposição. Lula sabe que é assim, mas fingia que não sabia. Desta vez ficou complicado continuar fingindo.