O governo sabe das consequências de dar calote no reajuste por mais um ano e justamente por isso vem dando à negociação ares de gravidade e responsabilidade que o assunto merece. Não imagino que as cabeças sérias do Palácio Iguaçu neguem a reposição por estarem convencidos de que estão negociando com barões do ensino público, como faz crer Arruda.
A segunda falha do discurso radical é a facilidade com que se torna incoerente. Arruda, que da tribuna agia como leão-de-chácara dos cofres estaduais, justificava seu posicionamento dizendo valorizar o dinheiro do imposto pago pelos paranaenses. Ora, se for de fato isso, em que momento desse raciocínio há espaço para que o deputado tenha tantos parentes nomeados em cargos em comissão do governo estadual? Elaine Arruda Nunes, irmã do parlamentar, recebe R$ 8,9 mil mensais no Departamento de Imprensa Oficial do Estado e Alessandra Arruda Nunes Morano, sua sobrinha, tem salário de R$ 9,6 mil no Instituto Paranaense de Ciência do Esporte.
Na gestão anterior, o filho e a esposa de Arruda também tinham cargos no governo do estado. Em 2018, aos 25 anos, o filho ocupou cargo de gerência na Agepar. Ao ser questionado sobre o fato, o deputado afirmou não ter interferido, só ter ado os e-mails e telefones de contato da vaga para que o filho enviasse seu currículo.
Se o exemplo de Arruda parece limitado para apontar os limites práticos do radicalismo, temos ainda a reforma da Previdência. Quem está sendo louvado pela aprovação do texto não é o presidente Jair Bolsonaro (PSL), que com seus arroubos erigiu barreiras à articulação, mas Rodrigo Maia (DEM), um membro nato da velha política, tida pelos radicais como a mãe dos males públicos. Como sabem os políticos, mesmo que finjam o contrário, não há soluções simples e unilaterais. Os assuntos públicos são resolvidos com diálogo, negociações e responsabilidade.