Se o custo do fechamento das escolas existe e é alto, precisamos nos perguntar sobre os benefícios. Aqui, entramos em um debate que não foi concluído por especialistas. O único ponto consensual é que as crianças estão pouco sujeitas às complicações da Covid-19. Mais inconclusiva é a percepção de que elas também transmitem menos a doença.

Um estudo publicado na revista Lancet mostra que não há evidências que embasem uma escolha sobre o que fazer com as escolas durante a pandemia de Covid-19. Em casos anteriores de coronavírus, o fechamento de escolas não foi decisivo no controle de doenças como Sars e Mers. Os pesquisadores chamam a atenção para o fato de que o novo coronavírus tende a provocar poucos sintomas nas crianças, o que pode limitar a disseminação da doença em escolas. Mesmo assim, essas informações não são suficientes para descartar o fechamento das salas de aula ou a adoção do distanciamento social dentro das escolas.

Na falta de dados, é preciso olhar para países que já trilharam o caminho de abrir escolas. A Suécia manteve parte significativa dos serviços escolares abertos e não se encontrou evidência de que essa escolha tenha disseminado a doença – no país, o principal problema foi o descuido com casas de repouso e asilos, o que tem sustentado críticas ao modelo menos restritivo de combate ao coronavírus adotado por lá. Outros países que fecharam escolas estão usando medidas de contenção, como barreiras plásticas nas carteiras e testes semanais de todos os alunos. De qualquer forma, não há registros importantes de retorno da doença por causa da reabertura de escolas.

Na Austrália, um estudo feito em 15 escolas encontrou evidências de que a transmissão no ambiente escolar é limitada, sendo menor para a Covid-19 do que para outras doenças respiratórias. Metade dos casos iniciais foi registrada entre funcionários das instituições de ensino, o que também ressalta a necessidade de se encontrarem meios de proteção aos trabalhadores.

Ainda não existe um protocolo único para a reabertura das escolas. Um relatório feito por especialistas em parceria com autoridades canadenses, por exemplo, sugere a manutenção de menos alunos dentro das salas, ao mesmo tempo em que dispensa medidas como máscaras e distanciamento social por serem impraticáveis.

No Brasil, essa discussão está longe de produzir um modelo de reabertura que reduza os danos da pandemia sobre as crianças. As autoridades vêm retardando o processo de reabertura dos equipamentos de educação e priorizando bares, estádios e shopping centers. Em muitos lugares, esse sistema de reabertura tem sido ineficiente, feito muitas vezes sem que a curva de novos casos esteja baixa o suficiente.

O retorno das aulas deveria ser um ponto prioritário para a política pública de contenção ao coronavírus. O custo invisível da parada na educação está sendo ado de forma injusta para os mais jovens, que não participam das decisões sobre como segurar a curva de crescimento no número de casos. Não é algo estranho para um país que nem ministro da Educação tem.

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