Não tenho estômago para reler todos os notórios comentários que vi circular por aí. Mas não posso deixar de mencionar um que me chamou atenção. Trata-se do famoso influenciador Garganta, aquele eloquente, persuasivo e especialista em fake news. Suas habilidades retóricas são excepcionais e usadas para manter os animais da Granja Solar sempre alinhados com o bem-estar coletivo e domesticar a democracia. z7171
Garganta foi um dos primeiros mobilizar o ataque à jornalista do Estadão. Depois, fingiu arrependimento e escreveu uma carta de desculpas. Mas com ressalvas, sempre. Pois, alega Garganta, um ardente defensor da democracia imaginada por Major: “Ao Estadão, não deixo qualquer pedido de desculpas e reitero a pergunta: quem financia esse jornaleco da direita?” Achei que faltou um “jornaleco fascista” para o final ser mais apoteótico.
De qualquer maneira, todo esse espetáculo entre governo, imprensa e Garganta me lembrou o finalzinho de A Revolução dos Bichos, de Orwell. No fim, os porcos se tornam indistinguíveis dos opressores humanos. Jogam cartas, bebem, riem e discutem como parceiros. Na cena, escreve o narrador, “não havia dúvida agora quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco”.