Segundo Margutti, a divisão desses grupos cria o caráter “esquizofrênico”, pois impede um aprofundamento a respeito da filosofia praticada e produzida aqui. Essa “esquizofrenia” não promove qualquer diálogo entre um grupo e outro, sobretudo os dois primeiros. Na verdade, como ele alerta, “eles se ignoram mutuamente” por causa de “diferenças ideológicas”. A polarização ideológica não foi inventada na era das redes sociais.

O primeiro grupo, ligado mais ao pensamento de “esquerda”, “inspirado inicialmente por Cruz Costa e posteriormente liderado por Oswaldo Porchat, instalou-se no Departamento de Filosofia da FFLCH da USP”. Cruz Costa “defendia a ideia de que a história não tem como objetivo restaurar o nosso ado, mas libertar-nos dele. Sua opinião política era de tendências socialistas” e foi um militante engajando na “frente esquerdista conhecida como Coligação Democrática Radical” em 1945.

Já o segundo grupo, por sua vez, está ligado à mentalidade mais para o lado da “direita” e “tirou sua inspiração de Miguel Reale, um dos mentores intelectuais da Ação Integralista Brasileira” e que “atuava na Faculdade de Direito da USP”. Miguel Reale foi o fundador da Revista Brasileira de Filosofia, cujo objetivo era o de “conferir ao país um lugar no mundo filosófico universal, sem ficar à exegese do pensamento estrangeiro”, em oposição ao Departamento de Filosofia da USP. Essa polarização ideológica, reconhece Margutti, tem sido extremamente prejudicial para a história da filosofia do Brasil.

Infelizmente, grande parte dos estudos de história da filosofia brasileira é contaminada por essa polarização ideológica. Essa é a tentação a que a História da filosofia do Brasil de Paulo Margutti visa resistir. Para tanto, é necessário partir de um “programa de pesquisa mais ligado à nossa realidade”, uma “tarefa que envolverá uma reavaliação da história da filosofia brasileira [...], contribuindo desse modo para tornar mais clara a nossa autoimagem”. Essa autoavaliação do lugar em que nos encontramos coloca a obra de Margutti como um verdadeiro divisor de águas acerca dos estudos da filosofia do Brasil.

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