Quero compartilhar alguns casos em que participei ativamente como corretor. Os nomes foram trocados por motivos óbvios de confidencialidade.
Comecemos com Mark. Ele planeja sua mudança da Califórnia para a Flórida para o fim de 2022. Mark tem negócios em seu estado de residência, mas sua atividade é primordialmente on-line. Já comprou um terreno no litoral da Flórida e deve comprar uma casa nos próximos meses para então vir com a família. Durante nossas conversas, Mark deixou claro que não tem mais motivos para viver na Califórnia. Ele é um independente, tem várias posições conservadoras e algumas liberais, mas seu bolso tem falado mais alto que qualquer ideologia, e a economia que terá em impostos é mais que suficiente para justificar sua mudança. Mark é um milionário e pretende se desfazer de todos os imóveis que tem na Costa Oeste.
Juan também morava na Califórnia. Imigrante de primeira geração, conquistou seu lugar na classe média norte-americana, um tremendo ganho em relação à vida que tinha em seu país de origem. Mudou-se para a Flórida no ano ado porque não ava mais a doutrinação na escola que seus filhos frequentavam. Chegou a tirá-los do colégio e os ou para o homeschooling, mas os outros problemas prementes de sua região – violência, custo de vida e leis insanas – foram a gota d’água para a mudança. Já está estabelecido em Orlando e até se registrou como republicano para as eleições de novembro.
Sonia veio de Maryland. Sua filha veio primeiro, para estudar e trabalhar na região de Orlando. Depois ela trouxe sua mãe, que sofria demais com os invernos de Baltimore. Em seguida, a outra filha se juntou à irmã e à avó – as três moram na primeira propriedade que Sonia comprou, numa cidade a nordeste de Orlando. Nos últimos meses, ela e o marido têm se livrado dos bens que possuem em Maryland e se preparado para a mudança final. Ela trabalha com comércio eletrônico e pode fazê-lo de qualquer lugar; ele trabalha numa companhia aérea e pode se mudar para qualquer lugar em que haja um aeroporto de médio ou grande porte. Ambos são conservadores e estão fugindo do frio e da violência de Baltimore.
Carl nasceu e viveu seus quase 60 anos em New Jersey. Empresário no ramo do automobilismo, acumulou muitos prêmios e dinheiro durante sua bem-sucedida carreira. Pretende construir um complexo esportivo próximo a Orlando e se mudar com a família para cá. Nas conversas que tivemos, sempre falou muito sobre o esporte, sua paixão, e sobre o quanto está animado com seu projeto. Somente na última reunião é que finalmente mencionou sua iração por Ron DeSantis e sua falta de paciência para com os arroubos regulatórios e burocráticos de seu estado. Está em processo de compra de terras e imóveis e deve concluir tudo até o fim deste ano.
Como regra geral, não converso sobre política com nenhum cliente a não ser que a pessoa entre no assunto. Mas a polarização em que vivemos é tamanha que as pessoas começam a se posicionar politicamente diante de qualquer interlocutor, especialmente quando sentem que estão falando com alguém respeitoso, e eu tento ser o mais respeitoso possível.
As cidades e estados profundamente democratas estão sendo abandonados por quem quer trabalhar e viver em paz
Se meus clientes forem indício de uma tendência, como eu acredito que sejam, teremos uma Flórida cada vez mais vermelha. Ron DeSantis venceu sua primeira eleição por pouco mais de 32 mil votos, o equivalente a menos de 0,5% do total de votos. Sua vitória foi a derrota de um candidato que poderia ter afundado o estado. Andrew Gillium, um dos piores prefeitos da história de Tallahassee, foi encontrado nu com outros dois homens em um quarto de hotel em Miami, dois anos atrás. Os três estavam em overdose de metanfetamina, e sacos cheios com mais droga estavam espalhados ao redor. Um dos homens foi identificado como um garoto de programa. Gillum, que é casado e tem três filhos, estava tão fora de si que não conseguiu explicar nada à polícia quando foi encontrado.
Como diz um grande amigo, foi desse sujeito que DeSantis livrou os floridianos. E os floridianos deverão retribuir o favor e reelegê-lo com a maior margem das últimas décadas – as pesquisas apontam uma vitória de lavada do atual governador, a ponto de os democratas fecharem as torneiras financeiras para a campanha de quem quer que seja o escolhido do partido para as eleições de novembro. Em outras palavras, não querem apostar em um cavalo doente, sem a menor chance de vitória.
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Este é o grande estado da Flórida. Em minha humilde opinião, as mudanças que estão acontecendo aqui são uma versão amplificada do que está acontecendo em outros lugares. As cidades e estados profundamente democratas estão sendo abandonados por quem quer trabalhar e viver em paz. As grandes metrópoles da Califórnia, por exemplo, estão vendo a classe média sumir. Restarão os muito pobres e os muito ricos, e essa configuração é insustentável no médio e longo prazo. A cidade de Nova York tem visto seus índices de violência subir de forma espantosa, como se a cidade estivesse de volta aos anos 80. Chicago não para de bater seus próprios recordes de assassinatos. E por aí vai.
As pessoas até am viver em lugares assim quando a mudança é algo inalcançável. Essa é a realidade de muitos brasileiros, que gostariam de fugir de suas condições de vida, mas simplesmente não possuem recursos para isso. Aqui é o oposto. Qualquer pessoa que tenha um pequeno imóvel nessas cidades democratas pode vendê-lo e comprar algo bem melhor na Flórida, porque aqui o custo de vida é muito menor. Mesmo com a valorização fora do comum que ocorreu nos últimos 18 meses, os imóveis da região de Orlando ainda são muito mais baratos que os equivalentes californianos ou novaiorquinos.
Quanto mais gente se muda para o estado do sol brilhante, mais nublado fica o futuro dos democratas.