Contrariamente à interpretação popperiana, a ideia do “rei-filósofo” nunca foi um projeto político. Em Platão, ele foi sempre algo como um tipo ideal no sentido weberiano, uma reductio ad absurdum, jamais uma utopia totalitária. Com seu híbrido conceitual, Platão pretendeu incitar os interlocutores a imaginar a dissolução dos termos componentes – rei e filósofo –, que se seguiria necessariamente à sua fusão. Porque, se essa coisa pudesse existir, um rei-filósofo não seria plenamente nem um nem outro. Platão não desejava uma identificação completa do político (o rei) com o intelectual (o filósofo), nem, tampouco, a sua disjunção absoluta. Antes, propunha uma correspondência entre a ordem interna da alma, a especialidade do filósofo, e a boa ordem da sociedade, a missão do governante justo. 6j1u62
Ora, são justamente alguns discípulos de Popper – não os de Platão – os que, no mundo contemporâneo, parecem divisar a utopia totalitária de um governo dos que sabem, a epistocracia. Mas isso é Jason Brennan, é George Soros, é Klaus Schwab e que tais. Não Platão.