Em 1918, um decreto bolchevique extinguiu o direito à propriedade dos sacerdotes, tornando-os dependentes dos soviéticos, os novos proprietários e locadores das terras paroquiais. Em seguida, Lenin determinou que a Igreja pusesse à venda o seu patrimônio sacro. Ciente de que o clero não acataria a ordem, o ditador bolchevique pretendia estigmatizá-lo como egoísta e insensível aos sofrimentos do povo. A partir de 1921, a cristofobia bolchevique começou a ar das palavras à ação. Em fevereiro, ordenou-se aos sovietes que confiscassem todos os valores encontrados nas igrejas, inclusive relíquias e objetos de culto. Bandos armados destruíram as paróquias, levando tudo o que achavam pela frente: ícones, cruzes, cálices, mitras etc. Os cristãos armavam-se como podiam para defender os seus templos, numa luta desigual. As turbas bolcheviques tinham metralhadores, e com elas massacravam velhos e mulheres portando terçados e rifles enferrujados. Somente entre os anos de 1922 e 1923, diz Figes, mais de 7 mil religiosos foram assassinados, sendo metade dessa cifra composta por freiras. Em comunicado sigiloso que só veio a se tornar público em 1990, Lenin ordenou o extermínio de todo o clero, maliciosamente associado à reação czarista: “Cheguei à conclusão inequívoca de que devemos travar a mais decisiva e impiedosa guerra contra os clérigos que apoiam os Cem Negros [bandos contrarrevolucionários criados pela polícia czarista], acabando com toda a resistência e usando toda a crueldade, de forma que dela não se esqueçam por décadas. Quanto aos demais sacerdotes e membros da burguesia reacionária, o melhor é fuzilá-los”. 3e6e3v

Nota-se, portanto, que a violência anticristã característica dos movimentos revolucionários e socialistas nunca irrompe subitamente, de maneira imprevista. Ao contrário, ela se dá em etapas, cuja transição ocorre de maneira mais ou menos acelerada, a depender das circunstâncias. Não, nunca afirmei categoricamente que, num eventual retorno ao poder, o lulopetismo irá necessariamente recorrer à violência ostensiva contra as igrejas cristãs. Digo que, levando em conta a escalada da cristofobia nos países vizinhos governados por ditaduras socialistas historicamente aliadas ao PT (uma verdade que os censores do TSE tentarão em vão suprimir), essa é uma possibilidade plausível, contra a qual os cristãos brasileiros devem se precaver. Sobretudo porque uma das etapas daquele processo já parece estar em execução, uma vez que a retórica do candidato petista – que fala abertamente em dispensar padres e pastores – revela um claro propósito de submeter os cristãos e suas igrejas aos critérios de sua agenda político-partidária. Nesse contexto, as igrejas e os sacerdotes “companheiros” (mesmo que excomungados por adesão ao marxismo) serão legitimados e erguidos à condição de representantes exclusivos do cristianismo. Quanto aos “refratários”, não é absurdo imaginar que venham a ser alvo de campanhas difamatórias, perseguição istrativa, assédio judicial e, quiçá, violência. Escandalizar-se com essa hipótese e reputá-la como impossível só pode ter duas causas: ignorância histórica ou má intenção (desejo de acobertar a ação).