Como se depreende de sua análise do fenômeno no século 20, é preciso apenas um nível mínimo de apoio social para a perpetração do assassinato em massa, um apoio extremamente fácil de se obter, sobretudo quando o grupo político perpetrador tomou conta dos aparelhos repressivos do Estado. Com efeito, líderes políticos dispõem de métodos poderosos para recrutar os indivíduos necessários para a condução do processo, e garantir a cumplicidade, ou ao menos a ividade, do restante da sociedade. De acordo com o autor: 5v5jk

“O apoio ativo ou a participação da maioria do público não são, em geral, necessários para a ocorrência do assassinato em massa. A violência concreta na maioria dos episódios de assassinato em massa é realizada por grupos relativamente pequenos, usualmente militares, paramilitares e organizações políticas. O restante da sociedade tipicamente permanece iva ou indiferente ao destino das vítimas. De fato, antes que de apoio positivo da sociedade como um todo, um assassinato em massa frequentemente parece requerer pouco mais do que poderíamos chamar de ‘apoio negativo’ – a incapacidade das vítimas de escapar ou se defender, a ausência de oposição organizada doméstica ou internacional aos perpetradores, e a falta de disposição da população em assumir riscos em prol dos outros (...) Apenas governos democráticos costumam precisar de apoio amplo e proativo para suas políticas. No entanto, a grande maioria dos assassinatos em massa não ocorreu em democracias. Líderes que disponham do apoio político e militar necessário para assumir o controle do Estado usualmente possuem o apoio suficiente para a condução do assassinato em massa. Em países não democráticos, esse nível mínimo de apoio pode ser bastante ível.”

Ocorre, por vezes, que a maioria da população de um país endosse o extermínio do grupo considerado socialmente pernicioso. Mas é muito mais frequente que o grosso da população não aprove o plano genocida dos ocupantes do poder, que, todavia, segue em frente ainda assim. Como sugere Valentino, a simpatia do público em geral é irrelevante para os processos de assassinato em massa. Por outro lado, a indiferença – aquela “indiferença progressiva dos conterrâneos” descrita pelo historiador do nazismo Ulrich Herbert – costuma ser muito mais decisiva. A escritora russa Nadezhda Mandelstam, cujo marido pereceu no gulag stalinista, descreveu a atitude de muitos de seus contemporâneos durante o Grande Expurgo: “Nós todos optamos pela saída fácil de manter o silêncio na esperança de que seriam os nossos vizinhos, e não nós, os próximos a serem mortos”. É o mesmo espírito dominante na sociedade brasileira atual, que, com raras exceções, optou pelo silêncio na esperança de que apenas os “bolsonaristas” – descritos como inimigos do Estado, da democracia, da civilidade, da paz e do amor – continuem sendo perseguidos e definhem no cárcere.