Como disse acima, os assassinatos dos meninos Rhuan e Karol Ramón trazem as marcas culturais do período. São crimes de época. Por sua psique individual deformada, é muito provável que as assassinas cometessem atos bárbaros em quaisquer outras circunstâncias históricas ou culturais. De todo modo, o repertório específico a que recorreram nos crimes presentes, por assim dizer, é um fato social.
Embora excepcionais em sua natureza criminosa, ambos os crimes podem ser compreendidos como manifestações extremas de uma espécie de misandria cultural latente e generalizada no Ocidente contemporâneo, ou, mais especificamente, como uma interpretação tragicamente literal do projeto ideológico de castração social dos meninos, tão bem descrito por Sommers. Se, claro está, essa misandria cultural não pode ser vista como causa imediata de crimes tão bárbaros – causa que reside sempre na decisão pessoal das criminosas –, é verdade também que lhes fornece o contexto do qual talvez surjam, lamentavelmente, outros casos parecidos. E a discrição estratégica (e politicamente motivada) mantida pela imprensa em relação ao caso é, sem sombra dúvida, um componente perturbador desse contexto.