Vejam um trecho da fala de John Kirby: “Acreditamos que é profundamente problemática a maneira como o Brasil tem abordado essa questão, tanto de forma substancial quanto retórica, sugerindo que os Estados Unidos e a Europa não estão interessados na paz ou que somos responsáveis pela guerra. Honestamente, neste caso, o Brasil está reproduzindo a propaganda russa e chinesa sem dar atenção aos fatos”.
As críticas da Casa Branca são pesadas. Trazem um tom e palavras que não estamos acostumados a ouvir em relação ao Brasil. Tudo isso no momento em que a tensão entre Washington e Pequim atinge níveis alarmantes. Ouve-se falar sobre receios de eventuais embargos contra o Brasil. Pode parecer algo improvável, mas não podemos esquecer que o senador americano Ted Cruz defendeu a imposição de sanções ao Brasil quando navios de guerra iranianos foram autorizados a atracar no Rio de Janeiro no início deste ano.
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Recentemente, foi apontado, inclusive, que o acordo entre Brasil e Suécia para a aquisição dos caças Gripen pode ser impactado em virtude de nosso alinhamento com a Rússia. Autoridades suecas teriam receio de que itens sigilosos do acordo pudessem acabar caindo nas mãos dos russos. Neste contexto, não podemos esquecer de alguns fatores. Primeiro, Suécia e Rússia já se enfrentaram, na Grande Guerra do Norte (1700-1721), que trouxe fim ao Império Sueco, tendo perdido boa tarde de seu território e nunca mais conseguindo retomar o posto de potência europeia. Depois, aconteceu a Guerra Russo-Sueca (1788-1790), que terminou em empate, sem mudanças territoriais ou políticas significativas. Para completar, hoje a Suécia está prestes a ingressar na OTAN, abdicando de sua tradicional postura neutra. Este é outro elemento de tensão que pode atrapalhar as relações do Brasil com Estocolmo.
Refletindo sobre tudo isso, acabei chegando a uma conclusão insólita (e recheada de ironia): pelo menos sofreremos sanções de apenas um dos lados, e não de ambos simultaneamente. Deus queira.