Entretanto, a investigação dos atentados foi recheada de mistérios. Houve duas investigações. Uma oficial (que concluiu que a autoria foi de fato de responsabilidade dos chechenos), e outra independente, liderada pelo vice-presidente da Duma (a câmara baixa russa), Sergei Kovalev. Esta segunda investigação gerou eventos controversos. O governo se recusou a responder às perguntas dos investigadores. Dois membros importantes da comissão, Sergei Yushenkov e Yuri Shchekochikhin, tiveram mortes suspeitas, o primeiro foi assassinado perto de sua casa em Moscou, em 2003. O segundo faleceu de uma misteriosa doença, que muitos apontam como envenenamento. Além disso, Mikhail Trepashkin, advogado da comissão, foi condenado a 4 anos de prisão por supostamente revelar segredos de Estado durante as investigações.

O mais estranho, porém, foi um suposto atentado que foi “prevenido” à época, que ficou conhecido como o “Incidente de Ryazan”. Naqueles meses, o país estava aterrorizado. Todos ficaram paranoicos, com medo de seu prédio ser o próximo a ser atacado. Os moradores estavam constantemente vasculhando o porão de seus prédios em busca de explosivos. Foi então que, no dia 22 de setembro de 1999, Alexey Kartofelnikov, habitante da cidade provincial de Ryazan, percebeu uma movimentação estranha em frente ao seu prédio. De um carro desconhecido estacionado no local, homens estranhos saíram e levaram vários sacos brancos para o subsolo do edifício. Lembrando que, segundo a investigação oficial, os explosivos teriam sido produzidos numa fábrica de fertilizantes, trazendo uma mistura de pó de alumínio, nitroglicerina e açúcar. A aparência era de sacos de açúcar.

Essa foi a impressão de Alexey Kartofelnikov: de que se tratava de sacos de açúcar. Quando os estranhos homens foram embora, os habitantes acionaram a polícia. Foi neste ponto que a coisa fica estranha. Os investigadores encontraram muitos sacos grandes de açúcar no porão, mas eles traziam consigo um detonador. Por isso, o prédio foi evacuado, uma vez que a primeira informação oficial era de que se tratava realmente de explosivos. E foi assim que o caso foi primeiramente reportado no noticiário nacional. Putin chegou a agradecer os moradores da cidade por sua terem evitado mais um desastre.

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Porém, tudo mudou quando, na mesma noite, a polícia prendeu dois suspeitos. Mas o problema é que eles se identificaram como agentes da FSB. Neste momento, uma ligação de Moscou chegou, ordenando que os homens fossem libertos imediatamente. Neste momento, a versão oficial da história mudou. Patrushev, que assumiu o lugar de Putin como diretor da FSB, apresentou a nova explicação para o ocorrido, dizendo que os sacos traziam apenas açúcar. Os agentes teriam colocado os sacos no porão do prédio apenas como um teste, um exercício, para verificar a atenção dos moradores.

A versão foi contestada por Alexander Litvinenko, um tenente-coronel do exército russo e espião da FSB. Ele acabou escrevendo dois livros afirmando que os ataques de 1999 que conduziram Putin ao poder teriam sido, na verdade, operações de bandeira falsa realizadas pela FSB, e não de responsabilidade dos separatistas chechenos. Litvinenko acabou conseguindo um asilo político na Inglaterra, mas foi envenenado em 2006.

O atual caso do Crocus City Hall me trouxe essa lembrança do final dos anos 90. E torço para que seja exatamente isso: apenas uma lembrança.