Não quero entrar no mérito da pressão que sindicatos de professores exerceram sobre prefeitos e governadores, nem discutir se eles cederam a essa pressão porque 2020 era um ano eleitoral. E muito menos comparar o distanciamento que se consegue ter em sala de aula com aquele registrado em bares, por exemplo, que durante meses estiveram liberados para funcionar.
Acho importante não ignorar, porém, o caso específico de reabertura de escolas em São Paulo que atraiu a atenção de pesquisadores brasileiros, ligados à Universidade de Zurich, na Suíça, e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Quatro pesquisadores da área de Economia decidiram estudar o que aconteceu no estado de São Paulo, onde131 prefeitos optaram pela reabertura de escolas ainda no segundo semestre de 2020. No estado mais populoso do Brasil isso é uma amostragem significativa.
131 cidades pode parecer pouco perto do número total de municípios do estado, 645, mas para os pesquisadores foi mais do que suficiente para uma análise comparativa confiável.
O que o grupo de economista fez foi olhar para os números de escolas abertas, de alunos circulando, população em geral, casos de Covid e mortes nessas cidades que autorizaram a retomada das aulas, antes de depois da volta. E também as oscilações no número de casos e mortes nas cidades que mantiveram a proibição, ao longo do mesmo período, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde.
O título do estudo já diz tudo: “A reabertura das escolas na pandemia não aumentou a incidência nem a mortalidade de Covid-19 no Brasil”. A Gazeta do Povo publicou reportagem bastante completa sobre essa pesquisa, que pode ser conferida aqui, mas segue um resumo.
Os pesquisadores separaram os municípios de São Paulo em dois grupos. O primeiro era o das cidades em que o prefeito permitiu a reabertura das escolas; o outro, aquele onde a proibição foi mantida.
A conclusão de que não houve aumento de casos nas cidades que autorizaram a volta às salas de aula só veio depois de analisadas também a infraestrutura das escolas, os indicadores socioeconômicos dos municípios e até o percentual de idosos e as taxas de isolamento social em cada cidade.
Antes que os “do contra” comecem a desqualificar o trabalho e atacar os pesquisadores, vale uma brevíssima apresentação de apenas um deles. Guilherme Lichand tem PHD em política econômica pela Universidade de Harvard (EUA) e atualmente é professor assistente e diretor de pesquisas de um centro de estudos sobre o desenvolvimento infantil na Universidade de Zurich (Suíça). Ao ser entrevistado pela Gazeta do Povo o pesquisador foi taxativo.
“Podemos afirmar, com margem de confiança de 95%, que a reabertura das escolas não levou municípios a subir no ranking estadual de casos e mortes”.
Guilherme Lichand, pesquisador da Universidade de Zurich
O estudo está publicado em inglês, o que significa que está disponível para a comunidade internacional. Talvez fora do Brasil ninguém mais esteja muito interessado nesse tipo de pesquisa, já que a vida escolar segue em ritmo quase normal na maioria dos países. Resta saber se aqui vai ser lido pelas autoridades e, principalmente, se vai ser considerado.
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