Fico imaginando como estaria a indignação nas redes sociais se em vez de igrejas os ataques tivessem sido, por exemplo, a templos budistas ou a terreiros de candomblé. Por acaso igreja católica ou protestante, sinagoga, templo budista, terreiro de candomblé, de umbanda, da crença que for, pode ser destruído conforme a irritação de quem sem manifesta na rua, seja lá com qual propósito?
E por acaso repudiar atos assim é pauta de Direita ou de Esquerda? Paz e justiça social deveriam ser o foco de toda e qualquer corrente política; assim como o respeito e a tolerância a todos os seres humanos, independentemente de idade, raça, cor, sexo, orientação sexual ou religiosa, como, aliás, está na nossa Constituição. Perante a lei são todos iguais. Ou deveriam ser.
É bom a gente refletir sobre essa “meia tolerância” de parte da sociedade e essa empatia selecionada, que se coloca a favor de manifestantes violentos alegando que a causa é justa e fecha os olhos para o crime de cristofobia dos vândalos, desde que estejam alinhados no pensamento político.
Os sequestradores dos termos "tolerância" e "empatia" são os mesmos que chamam de democráticas e "comemorativas" manifestações como essas do Chile e de antidemocráticas, as eatas pacíficas aqui do Brasil, onde famílias vão unidas para a rua, levando suas reivindicações e sua indignação apenas em faixas e cartazes, sem paus, pedras, bombas de fabricação caseira e um ímpeto destruidor.
Está mais do que na hora de tratar as coisas pelo que elas realmente são: tolerância e empatia, termos que a esquerda tenta monopolizar, não são conceitos que permitem meias interpretações.
Quem vai para a rua pedir justiça social, como dizem ter ido os manifestantes chilenos contrários ao governo de centro-direita, não comete a injustiça de sair depredando patrimônio público, lojas, meios de transporte e destruindo templos religiosos considerados sagrados por quem segue aquela religião.
Também não existe empatia verdadeira se a aceitação é apenas dos semelhantes e prega-se repúdio a quem segue ideias e crenças diferentes.
Esse episódio do ataque a igrejas no Chile, celebrado por muitos (ou simplesmente ignorado por muitos), me fez lembrar não só dos antifas brasileiros, que na época em que abandonaram a quarentena para cometer atos de vandalismo chegaram a ser descritos como pró-democracia, mas também de dois casos em que não houve depredação ou violência física, mas muito deboche ao mais seguido de todos os líderes espirituais e a uma de suas seguidoras, apenas por ela acreditar nele.
O líder a que me refiro é Jesus Cristo. E os dois casos que mencionei são aquele vídeo de Natal do Porta dos Fundos, que mostra um Jesus homossexual, algo considerado ofensivo pela maioria dos cristãos, e as piadinhas e comentários maldosos tentando ridicularizar a ministra Damares Alves, simplesmente por ela ter dito que, quando criança, viu uma imagem de Jesus num momento de muito desespero e foi salva por essa visão.
Não foi um relato qualquer. A ministra, que é pastora evangélica, estava num culto, conversando com pessoas que compartilham das mesmas crenças. Fez um desabafo sobre um momento muito sofrido da sua infância, em que ela dizia estar prestes a tentar cometer suicídio jogando-se da goiabeira onde buscava refúgio depois de sofrer violência sexual. Na hora de fazer piadas ignoraram tudo isso.
Eu não tenho dúvidas de que quem debochou daquele relato da ministra, da fé que ela demonstrou ter, da imagem que ela acredita ter visto, espalhou intolerância religiosa e ódio ao diferente. Tiraram o relato do contexto, jogaram na mídia e deixaram rolar solto o discurso de desprezo, sem qualquer compaixão pela dor de uma criança que sofreu abusos, que pensou em se matar e se apegou a uma imagem de um guia espiritual para buscar salvação. E sem qualquer respeito à mulher que ela se tornou, ao trabalho que faz por outras pessoas, muito por causa do que viveu.
Falam tanto de discurso de ódio, mas fingem ignorar que a raiz do ódio está nas próprias falas. Cheguei a ouvir gente assumindo que tem preconceito contra “evangélicos radicais” citando esse caso da ministra, como se fosse radical uma criança acreditar em Cristo como caminho para a salvação ou a cura de um sofrimento psicológico muito grande, ou como se fosse radical uma adulta, na condição de pastora, durante um culto religioso, fazer um relato daqueles para fieis da mesma igreja.
Radical é debochar dos outros por não acreditar nas mesmas coisas. E botar fogo em igreja para mostrar indignação com a política. Aliás, isso é muito mais que radical, é criminoso mesmo.
Vale lembrar que tempos atrás, aqui no Brasil, exigiram da Justiça um posicionamento sobre homofobia. Por falta de legislação específica o STF decidiu legislar, igualando homofobia a racismo. E a cristofobia, que a gente tá vendo agora, não deveria ser considerada crime?
A violência contra cristãos e o ataque a símbolos religiosos, a locais de oração e a templos não podem ser tolerados. É preciso repudiar todo e qualquer ato de ódio ou intolerância religiosa. Ficar em silêncio não é apenas sinal de hipocrisia, mas também de conivência. Como diz o ditado, quem cala, consente.
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