O lançamento do Threads foi feito de forma diferente. Os grandes influencers foram convidados para ocupar a plataforma antes do lançamento para o grande público. O objetivo da ação foi atingido, levando para o aplicativo milhões de usuários do mundo todo em apenas algumas horas.

Muita gente está comemorando o ambiente mais arejado, o que é verídico. O aplicativo acabou de ser lançado e o algoritmo ainda está aprendendo o que cada usuário quer ver e os usuários estão começando a usar. Eu entrei no Twitter em 2007, naquela época nós escrevíamos onde estávamos, por exemplo. Não havia muitas ferramentas para diálogo e nem likes. Foi uma mudança que demorou anos até o modelo a que chegamos hoje.

Elon Musk disse que pretende processar a Meta por copiar o sistema que comprou por US$ 44 bi. Acusa a empresa de violar segredos industriais e contratar ex-funcionários para desenvolver a aplicação, o que violaria contratos e leis locais. Uma carta de interpelação extrajudicial de uma empresa a outra foi vazada pelo site Semafor e a autenticidade do documento foi confirmada pela CNN.

Não há uma manifestação clara de qual é o papel que essa rede pretende exercer na sociedade e qual sua utilidade.

Ter estruturas parecidas até visualmente não significa, no entanto, que a substituição é possível. A natureza do Twitter é fundamentalmente diferente de todos os outros produtos da Meta e, principalmente, funciona em voo solo. É uma rede social que tem um fim em si mesma, não dialoga com nenhum outro serviço da mesma empresa, até porque ela não tem.

O Threads ganhou um número de usuários absolutamente impressionante e está promovendo bastante os influencers mais conhecidos. Ocorre que o poder do Twitter não está nem no tamanho da rede nem no peso dos influencers. Ele é importante pela capacidade de pautar a imprensa mainstream, principalmente na área da política. Em setembro do ano ado, aqui na coluna Cidadania Digital, fiz um texto longo sobre o perfil do Twitter e o tipo de uso feito dele. Nos Estados Unidos, é uma rede para apenas 20% das pessoas. Aqui no Brasil, metade disso. A maioria dos perfis nem usa tanto.

Ter um Twitter usado na mesma perspectiva do Instagram pode funcionar e pode dar muito errado.

Cerca de 80% do conteúdo postado é produzido por apenas 10% dos usuários. Se nós distribuíssemos os posts feitos por mês entre todos os usuários, daria dois tweets ao mês, um a cada duas semanas. Toda hora você vê uma notícia de que alguém tuitou algo e os tuiteiros mais famosos postam diversas vezes ao dia. Fazendo a conta, a maioria não posta nunca, quase não posta na vida. Há dúvidas de se chegam a ar ou só têm a conta. O importante é pautar a mídia, não ganhar volume.

O Threads tem seu funcionamento atrelado ao do Instagram, você pode inclusive ar a seguir os mesmos perfis que já segue na outra rede. Ocorre que as pessoas usam de forma muito diferente o Twitter e o Instagram, inclusive seguem perfis muito diferentes. Ter um Twitter usado na mesma perspectiva do Instagram pode funcionar e pode dar muito errado.

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Muita gente assumiu que, por se propor a ser menos tóxico, o Thread teria uma timeline cronológica. Ou seja, você só vê as postagens de quem você segue e à medida em quem são feitas. Não é assim que ocorre, é mostrando o conteúdo que supostamente seria o mais interessante para o usuário.

Novos usuários reclamam que não conseguem deixar de ver a enxurrada de postagens de grandes influencers que não seguem. Existe uma opção para não ver tais postagens, mas há pessoas reclamando que ativaram isso e continuam vendo os posts de influencers que nem sabem quem são.

A premissa básica do que é o Threads funciona numa lógica complicada. Ele sabe o que não quer ser, mas não há um projeto claro do que ele pretende ser. Toda a mensagem gira em torno de ser algo capaz de coibir o ambiente tóxico. Não há, no entanto, uma manifestação clara de qual é o papel que essa rede pretende exercer na sociedade e qual sua utilidade na vida das pessoas.