Perceba que os dois casos se somam e explicam como só algumas poucas empresas controlam um mercado que teria tudo para abrigar uma multiplicidade jamais vista de iniciativas empreendedoras e opções.
VEJA TAMBÉM:
Primeiro, segundo o processo dos EUA, o Google paga empresas para ser instalado como ferramenta de busca padrão. Depois, como mostrou o processo da UE, usa essa ferramenta de busca para privilegiar outro produto seu, o Google shopping. Não podemos cair no erro de pensar que o Google é um grande vilão e ponto. A concorrência desleal e busca pelo monopólio tem sido uma realidade no mercado das Big Techs.
Em 1998 o Departamento de Justiça dos EUA moveu um caso gigantesco e rumoroso contra a Microsoft. Coincidentemente, era o ano em que o Google foi fundado por dois estudantes de Stanford.
Na época, o wi-fi estava começando a se popularizar nos EUA. O navegador mais usado era o Netscape Navigator (quem lembra?) e a Microsoft fez um concorrente, o Internet Explorer, lançado junto com o Windows 98.
Não podemos cair no erro de pensar que o Google é um grande vilão e ponto.
A Netscape fazia só o browser. A Microsoft já fazia muito mais coisas e resolveu usar seu peso nessa concorrência específica. Naquela época, você precisava ter um provedor de internet. Aqui tínhamos primeiro Mandic e STI e depois vieram UOL, AOL, Terra e correlatos. Nos Estados Unidos havia muito mais. A Microsoft começou a fechar acordos com os provedores de internet para que privilegiassem seu software sobre o da Netscape. Mas a outra empresa não poderia fazer o mesmo e oferecer acordos melhores? Não. Ela não produzia sistemas operacionais como a Microsoft, produzia só o software.
A sentença determinou que a Microsoft fosse dividida em dois para evitar práticas predatórias de mercado. Uma empresa deveria ser do segmento de software e outra de produção de sistemas operacionais. Se chegou à conclusão de que a soma das duas atividades sabota a concorrência e a competitividade. Como você sabe, a Microsoft continua fazendo as duas coisas. A empresa conseguiu reverter a sentença. Agora, o governo dos EUA também tenta fazer com que o Google seja quebrado, revertendo fusões de 15 anos atrás.
Só sabemos que não é possível haver liberdade real sem liberdade econômica e ela depende de práticas saudáveis de livre concorrência.
A argumentação do Google é bem interessante. Um exército de advogados top de linha argumenta que o caso é muito diferente daquele da Microsoft. A empresa alega que as pessoas optavam pelo navegador da Microsoft mas preferiam o da Netscape e isso só acontecia devido aos acordos que desafiavam a livre concorrência. No caso do Google seria diferente. As pessoas usam o Chrome porque preferem mesmo, não querem concorrentes como o Bing.
Verdade seja dita, o maior problema de concorrência que o Google vem tendo é devido ao surgimento de tecnologias de inteligência artificial como o Chat GPT. A empresa tenta emplacar seu Bard usando todo tipo de estratégia concorrencial, mas não tem conseguido.
VEJA TAMBÉM:
Ainda não sabemos no que vai dar o julgamento. Também não sabemos se a entrada da IA no mercado das Big Techs trará mais liberdade econômica ou mais monopólio.
Só sabemos que não é possível haver liberdade real sem liberdade econômica e ela depende de práticas saudáveis de livre concorrência. As Big Techs serão postas nos trilhos pelas regulações estatais ou pela mão invisível do mercado? Façam suas apostas. Aliás, bom apostar também se elas entram nos trilhos ou vão se agigantar ainda mais.