Publicações na internet feitas pelo grupo terrorista logo viralizaram na rede que os apóia em todo o mundo. Esse caldo de postagens foi tomado como verdade por jornalistas que estão a milhares de quilômetros da guerra. E eles tiveram autorização para, sem o devido processo de checagem, colocar isso na capa. Só que começaram a aparecer nas redes o desmentido. No final da história, nem o bombardeio no hospital existia. Os mortos, felizmente, também não. A credibilidade foi ao ralo. Se a gente achava que não poderia piorar, provaram que sim. Em vez de reconhecer o erro, apenas foram mudadas as manchetes. ou de bombardeio de Israel a bombardeio apenas. Depois virou explosão. E seguiu-se o cortejo.
O que esses mesmos veículos e influencers teriam feito caso influencers ou jornalistas de direita tivessem cometido um erro semelhante? Eu não duvido que já tivesse gente presa nessa história, provavelmente por discurso de ódio. Haveria um movimento frenético das agências de checagem. Os grandes órgãos de imprensa fariam desmentidos monumentais, explicando ponto a ponto a verdade. Não fizeram nada disso. É algo muito além de um erro, é falta de instinto de sobrevivência.
Tudo deveria ter sido comunicado ao público com transparência. Não iria resolver a crise de desconfiança, mas seria um aceno de compromisso com a verdade.
Ficou claro que a grande imprensa, a mais respeitada, é capaz de abraçar um viés e tratá-lo como notícia. Flagrada e desmentida pelas redes sociais, não se responsabiliza pelo que fez, não estabelece novas regras de cobertura, não é transparente com o público. O viés que eu digo não é apenas político. Sei que na esquerda mundial a questão Palestina é vista como um mito. Defendem a causa palestina a qualquer custo, mesmo o da própria dignidade. Se for preciso ar pano para terrorista, sem problemas, farão. Não exaltar a causa palestina é motivo de expulsão da seita esquerdista.
Existe aqui algo mais forte, a junção disso com as mentes devotas do identitarismo. Essa seita é aquela que divide o mundo entre oprimidos e opressores. Não importa, no entanto, quem oprime ou é oprimido na realidade. Uma pessoa muito oprimida é imediatamente promovida a opressora se for um homem branco, por exemplo. Nessa visão, que prescinde da realidade, o oprimido está sempre certo e o opressor sempre errado.
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O caso da cobertura de guerra é precisamente este. O oprimido, na cabeça desse pessoal, é a Palestina. Israel é opressor porque se alia aos Estados Unidos e os judeus são ricos e poderosos. É um pensamento simplista, sem nuances, descolado da realidade. Mas serve bastante para sinalizar virtude.
A nova fantasia do progressiste tem agora, além de um boné do MST, uma bandeira da palestina. Ele vocifera nas redes sociais contra o imperialismo. Finge que está lutando. Na verdade, está lutando para parecer um lutador. Na era em que redes sociais e jornalismo se fundem, esse espírito vazou para as páginas noticiosas. Era o momento de um freio de arrumação. Ali deveriam ter sido feitas publicamente as devidas correções e estabelecidas novas regras para a cobertura da guerra. Tudo deveria ter sido comunicado ao público com transparência. Não iria resolver a crise de desconfiança, mas seria um aceno de compromisso com a verdade.
Fernando Vieira de Mello, ícone do jornalismo e meu primeiro chefe, costumava dizer que “quem não defende a própria dignidade é incapaz de defender uma opinião ou uma reportagem”. Talvez as pessoas não saiam por aí dizendo isso com as mesmas palavras, mas é precisamente assim que o grande público pensa.