As redes sociais promovem o que dá mais cliques. Isso implode algo essencial para os veículos jornalísticos, organizar o que é mais importante para o público. Pense em um jornal impresso. A manchete não é o que geraria mais cliques, é aquilo considerado pelo veículo como mais importante para sua audiência. Uma empresa jornalística pode investir, por exemplo, durante meses em uma investigação importante. Isso será seguramente o conteúdo mais importante a promover. As redes sociais promoverão ativamente outro conteúdo, uma notícia bizarra ou sobre alguma subcelebridade. O que não tem valor jornalístico a a gerar mais valor financeiro do que aquilo que tem. Isso implode o modelo de negócios.
Na Austrália, a negociação financeira é uma parte do acerto entre redes sociais e veículos jornalísticos. A outra parte é que o veículo e a ter controle sobre aquilo que é promovido ativamente sobre as Big Techs. Uma empresa que investe, por exemplo, em jornalismo investigativo teria esse conteúdo mais promovido do que uma bobagem sobre uma celebridade.
VEJA TAMBÉM:
O DigWatch, sediado em Genebra, acompanha as discussões internacionais sobre regulação de internet. Havia, até o ano ado, uma forte corrente contra regulação, vinda especialmente dos Estados Unidos. Depois de diversas oitivas de dirigentes de redes sociais no Congresso norte-americano, caiu por terra a ideia de que é possível uma autorregulação pelas regras das plataformas. Há, neste ano, um consenso mundial sobre a necessidade de regulação. Ela é, no entanto, mais profunda do que estamos discutindo.
O principal ponto, segundo o DigWatch, é conseguir ter uma figura jurídica para as Big Techs que coincida com a atividade real dessas empresas. Atualmente, elas são colocadas como serviços de publicidade ou mensagens. No entanto, são empresas que moldam a política, a democracia, as relações sociais e até as relações comerciais.
Internacionalmente, este ano, a prioridade é encontrar figuras jurídicas que definam com precisão qual a atuação dessas empresas e desse mercado. Estamos diante de um desafio e tanto, que só pode ser enfrentado por adultos. A grande questão é se ou quando conseguiremos aqui no Brasil debater esse tema como adultos numa era em que a quinta série domina todos os debates.