Na realidade, o sistema de telefonia móvel brasileiro traz o DNA chinês. A Huawei fornece equipamentos tanto para as grandes – Vivo, Tim, Claro e Oi – quanto para empresas menores. Das mais de 86 mil estações rádio base (ERBs) em operação no Brasil, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), cerca de 70 mil foram fabricados pela Huawei, ou seja, mais de 80%.

Esses equipamentos são os responsáveis por transmitir sinal 2G, 3G e 4G a smartphones, modens, maquininhas de celular e todo tipo de aparelho que usa rede móvel. Uma parte considerável desses equipamentos poderia ser aproveitada pelas teles para a implantação do 5G. Trocando em miúdos, proibir a tecnologia da Huawei exigiria trocar também a rede 4G, isto é, o país teria que implementar uma 5G do zero, o que aumentaria o preço e demandaria mais tempo, segundo os especialistas.

O embaixador americano Chapman falou em US$ 1 bilhão em crédito às telefônicas caso o Brasil proíba a Huawei. Além dos valores serem considerados irrisórios diante da demanda de investimentos para o 5G, há a indefinição de quem estará na Casa Branca nos próximos quatro anos. Uma vitória do democrata Joe Biden poderia alterar todo o cenário de disputa entre China e Estados Unidos.

Percebendo a ‘saia justa’ com a investida de Trump, o embaixador brasileiro nos EUA, Nestor Forster, procurou esfriar o assunto. Disse que a decisão sobre a Huawei não será tomada agora. “É razoável que isso seja olhado com a seriedade que requer o assunto, e essa decisão eu entendo será tomada mais para frente, no início do ano que vem. Não se trata de banir essa ou aquela empresa, trata-se de procurar atender ao interesse nacional brasileiro. Isso que está em jogo”, disse.

Além da disputa pelo 5G, os EUA atuam no sentido de convencer o Brasil a diminuir importações da China. Durante cúpula virtual sobre o aumento da cooperação EUA-Brasil, nesta segunda-feira (20), o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, alertou que os EUA e o Brasil precisam diminuir sua dependência de importações da China para sua própria segurança agora que os dois países estão reforçando sua parceria comercial.

A China respondeu em seguida. Em nota, a embaixada chinesa no Brasil, representada por Yang Wanming, declarou que o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, e o Conselheiro do presidente americano para Assuntos de Segurança Nacional, Robert O'Brien, espalharam com má fé mentiras políticas contra a China, tendo fabricado a chamada "ameaça chinesa" para atacar a tecnologia de 5G do país asiático.

"Ao ignorar os fatos básicos e produzir comentários baseados na mentalidade de guerra fria e jogo de soma zero, eles têm como objetivo real servir a certos interesses políticos, tirar proveito político dos ataques que difamam a China, atrapalham a cooperação internacional e instam a confrontação", diz o comunicado da embaixada.

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