Mas a biologia nunca se afasta. Excitar o corpo sexualmente é excitar a pessoa para a reprodução. Por mais que duas mulheres (ou dois homens, ou duas pessoas com roupas de astronauta e camisinhas, ou qualquer outra combinação que as pessoas usem no intuito de masturbar-se a dois) venham a suscitar-se orgasmos uma com a ajuda da outra, seus corpos estão sendo enganados. Assim como uma pessoa que masque chicletes o dia todo provavelmente vai acabar com uma úlcera, pelo simples fato de que aquela atividade prepara o estômago para digerir uma comida que não vem nunca, quem se excita e não se reproduz, e não se une como casal, terá inevitavelmente problemas. O sexo, todavia, consegue ser uma fera mais perigosa que a fome. Poucas pessoas devoram cadáveres, mesmo quando não há mais nada para comer. Raras, contudo, são as pessoas que jamais deixaram o tentáculo da própria sexualidade abraçar um alvo errado (da proverbial mulher do próximo ao que já tenha pesado em sua consciência, meu bom leitor; não quero saber. Ninguém quer, e se quer é mal-educado).

Assim, as duas mulheres, já presas de uma fantasia vendida pela sociedade, projetaram psicoticamente no pobre menininho, e só nele, que era quem estava à mão e insultava com sua masculinidade o “lar” sempre transiente em que viviam, um ódio à masculinidade que também absorveram da mídia, do discurso, das “explicações” públicas do que seria essa "identidade lésbica". E, lâmina na mão, mutilaram o menino para tentar efetuar nele a mágica que a tevê não cansa de afirmar mentirosamente possível, fazendo de um menino uma menina. Qual a diferença entre essa dupla de psicopatas, vivendo profundamente enfiadas na ilusão que as elites lhes vendem, que saíram do Acre para perpetrar suas barbaridades no Distrito Federal, simbolicamente o coração do Brasil (pelo menos é o que queria JK), e os médicos que fazem mutilação extremamente semelhante em nossos hospitais, com o dinheiro de nossos impostos? A primeira diferença, claro, é que médicos usam anestesia, assepsia, são pessoas com treinamento cirúrgico, e tudo o mais. Mas o que eles buscam é exatamente o mesmo que a dupla de mutiladoras buscava: fazer magicamente de um menino uma menina. Fantasiar cirurgicamente uma pessoa de um membro do sexo oposto, como se cada célula de seu corpo não gritasse o sexo a que realmente pertence.

É quase a Ilha do Dr. Moreau, de H. G. Wells, em que um cientista louco – louco, mas ciente das melhoras práticas cirúrgicas de seu tempo, claro; um louco eficiente, altamente profissional – criava híbridos de homens e feras. Um homem castrado, com sua genitália literalmente virada do avesso para simular uma genitália feminina, não é uma mulher, nunca foi uma mulher e jamais será uma mulher. Ele pode beber aos galões hormônios femininos; pode usar maquiagem, deixar crescer os cabelos e as unhas, usar saltos altíssimos; pode mudar os documentos; pode exigir que todos o tratem no feminino, sob penas medonhas. Mas não pode, não consegue, jamais alcançará ser uma mulher. “Mulher é outro bicho”, já dizia Tom Jobim. Do mesmo modo, uma pobre moça que tem a sua ilusão auxiliada por um mau médico (primum non nocere!, a prioridade é não fazer o mal, manda o juramento hipocrático) que lhe retira as glândulas mamárias como se fossem peso extra, não o local do amoroso preparo da alimentação de um seu filho, e lhe dá venenos hormonais para tomar até que lhe cresça uma barba; mesmo que inventassem (creio que ainda não exista, mas confesso que não faço muita questão de me manter tão a par do que os Drs. Moreaux de nosso tempo estão fazendo) uma genitália masculina falsa, quiçá uma que subisse como um zepelim ao apertar de um botão, ela jamais seria um homem.

Mas a dupla de psicopatas de que falo, dominada por um ódio à masculinidade que “vem com o território” da pseudoidentidade que assumiu, tentou fazer num fundo de quintal o que os Senhores Professores Doutores Moreaux fazem às abertas nos hospitais. E daí, claro, o pobre molequinho continuou sendo um molequinho (e molequinho é uma espécie bastante característica, que proponho seja tido como o famoso elo perdido entre o homem e o sagui), só que um molequinho sob cujas calçolas jaziam as evidências (ou melhor, evidenciava-se triste ausência por conta) do crime cometido pela sua mãe e a companheira. Só havia, então, uma solução para criar o paraíso sem homens com que sonhavam para sua microcomunidade nômade: matá-lo. E esquartejá-lo, e livrar-se do cadáver. E, presume-se, em breve mudar-se de novo, para algum outro lugar onde ninguém jamais as tivesse visto com o pobre molequinho.

Tudo isso vem do efeito que teve sobre uma dupla de pessoas – já evidentemente dotadas de psicopatia em grau avançado – uma ilusão venenosa que a nossa sociedade prega: a de que sexo não é nem biologia, nem algo relacionado à reprodução. Que, ao contrário, é um alegre brinquedo a brincar com desconhecidos, algo transformável de lá pra cá e de cá pra lá, sem que jamais haja consequências indesejadas. Outras pessoas, com outros problemas mentais, vão provocar outras tragédias com o mesmo veneno: desde os pais que – legalmente, com absurdas autorizações judiciais – envenenam os próprios filhos com hormônios e outras poções-de-bruxa médicas para evitar que chegue à puberdade ou para trocá-la pela puberdade do sexo oposto, fantasiam-nos de pessoas do sexo oposto ou mesmo levam-nos para que os Doutores Moreaux de hoje os mutilem. Tudo, claro, legalmente. E com os aplausos dos televisivos, das autoridades, de toda a elite e de suas claques. A diferença é que, enquanto uns aproveitam para “sapatear na cara da sociedade” (ou, diria eu, do bom senso, da biologia e de outras vítimas de tal sapateado) ao fazer tudo legalmente e, via de regra, pelo SUS, as loucas do DF preferiram o caminho da iniciativa privada, do fundo de quintal. Não deu certo, mas em nenhum caso poderia dar certo.

Esta visão tresloucada da sexualidade é apenas um sintoma de um corpo social em avançado estado de putrefação. Como já disse, em Roma era muito semelhante; a diferença é apenas a nossa técnica cirúrgica e farmacêutica, mais eficaz que a deles. A putrefação de uma sociedade leva a tragédias. Algumas delas a visão fantasiosa das elites consegue transformar em supostas vitórias; é o caso da “visibilidade trans”. A outras não se tem como fazê-lo: é o caso da morte do pobre menino no DF. A loucura foi a mesma, as pseudossoluções mutiladoras foram as mesmas; só variou a visibilidade da sociopatia de quem as perpetrou.

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