Mas a pergunta que mais preocupa a sociedade, visceralmente contrária à liberação das drogas, fato medido em inúmeras pesquisas, é simples e direta: onde o usuário vai comprar os 60 gramas? Nas Pernambucanas? Dos traficantes, por óbvio. Ou seja, o equívoco do STF, embora involuntariamente, pode beneficiar o crime organizado. O tráfico de drogas aumentará.
Multiplicam-se, paradoxalmente, declarações otimistas a respeito das estratégias de redução de danos. O essencial, imaginam os defensores da nova política, não é a interrupção imediata do uso de drogas pelo dependente, mas que ele tenha uma melhora em suas condições gerais. A opção pela redução de danos pode ser justificada em determinadas situações, mas não deve ser guindada à condição de política pública. Afinal, todos sabem que, assim como não existe meia gravidez, também não há meia dependência. Embora alguns usuários possam imaginar que sejam capazes de controlar o consumo, cedo ou tarde descobrem que, de fato, já não são senhores de si próprios. Não existe consumidor ocasional. Existe, sim, usuário iniciante que, frequentemente, engrossa as fileiras dos dependentes crônicos. Afinal, a compulsão é a marca do usuário de drogas. Um cigarro de maconha pode ser o começo de um itinerário rumo ao desespero.
Recomendo um excelente filme sobre drogas: Ben is back (“Ben está de volta”), com Julia Roberts e Lucas Hedges. Ele mostra o impacto das drogas no âmbito de uma família. Interpretação carregada de realismo e sem fugas politicamente corretas. Vale a pena.
Bandeira frequentemente agitada em certos setores, a descriminalização não ajudará nada. Ao contrário. Alerta o respeitado psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): “Artigos recentes mostram de uma forma inquestionável que o consumo de maconha aumenta em muito o risco de os jovens desenvolverem doenças mentais. Essa geração que consome maiores quantidades de maconha do que a geração anterior pagará um alto preço em termos de aumento de quadros psiquiátricos”.
A verdade precisa ser dita. Não se pode sucumbir à síndrome da avestruz quando o que está em jogo é a vida das pessoas. O hediondo mercado das drogas está dizimando a juventude. E a coisa pode piorar. Ofereço estas reflexões aos ministros de STF e a todos que se preocupam com o futuro do Brasil.