Os demais tutores tradicionais do pensamento, incomodados, procuram calar a voz do povo. Afinal, pam na Constituição que todo poder emana do povo, para que o povo se acomodasse com isso. Com o que está escrito. Assim, se esgota o poder popular e não é exercido. Mas, mesmo quando é exercido, o povo é fácil de ser enganado. Os brasileiros elegeram seus representantes no Congresso, mas quem manda é quem não tem voto. Os representantes no Congresso têm o poder de fazer leis, mas nas verdadeiras liberdades democráticas é apenas literal. Quem baixa regras, mesmo, é a suprema corte do Judiciário. Revoga até o que, cheios de esperança, considerávamos direitos e garantias fundamentais.
E lá vamos nós, jogando nosso potencial no lixo, nosso futuro no ado, nossos filhos num beco sem saída. Posso falar nisso, pois desde 1940 acompanho esse carnaval de país alegre e sem rumo, na penitência de merecedor de castigo por ter recebido um paraíso e não ter conseguido convertê-lo em terra prometida, ao contrário do que fizeram os israelenses com um deserto. Talvez um Sinai esteja dentro de nós, e habitamos um deserto submissos a ele, com aparições de falsos moisés. Talvez apenas não tenhamos ânimo e coragem para afastar as águas e atravessar o mar vermelho.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos