“Estas associações são extremamente preocupantes, pois sugerem uma tentativa de minar a confiança pública nas instituições responsáveis pela segurança e ordem pública, além de possivelmente ameaçar a integridade do Carnaval como espaço de expressão cultural livre de influências nefastas”, reforçaram no documento. 1r1p59
O desfile da agremiação também provou manifestações do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp). "É de se lamentar que o Carnaval seja utilizado para levar ao público mensagem carregada de total inversão de valores e que chega a humilhar os agentes da lei”, criticou o órgão, ao considerar que a escola deveria fazer uma retratação pública. A Vai-Vai, no entanto, disse que não teve a intenção de fazer ataques ou provocações.
Em nota publicada na segunda-feira (12), a Vai-Vai disse que a “ala retratada no desfile de sábado, à luz da liberdade e ludicidade que o Carnaval permite, fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais MC's, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação, mas sim uma ala, como as outras 19 apresentadas pela escola, que homenageiam um movimento”.
A Vai-Vai ressalta que, no recorte histórico da década de 1990, "a segurança pública no estado de São Paulo era uma questão importante e latente, com índices altíssimos de mortalidade da população preta e periférica. Além disso, é de conhecimento público que os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundo, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado pra época. Ou seja, o que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram, no enredo do desfile”, completou.
Confira o que disse a Vai-Vai sobre a polêmica do Carnaval:
"Em 2024, a escola de samba Vai-Vai levou para a avenida o enredo Capitulo 4, Versículo 3 – Da rua e do povo, o Hip Hop – Um manifesto paulistano. Como o próprio nome diz, tratou-se de um manifesto, uma crítica ao que se entende por cultura na cidade de São Paulo, que exclui manifestações culturais como o hip hop e seus quatro elementos – breaking, graffiti, MCs e DJs. Além disso, o desfile buscou homenagear e dar vez e voz aos muitos artistas excluídos que nunca tiveram seu talento e sua trajetória notadamente reconhecidos. Neste contexto, foram feitos, ao longo do desfile, uma série de recortes históricos, como a semana de arte de 1922 e o lançamento do álbum “Sobrevivendo no Inferno”, dos Racionais MCs, em 1997. 'Sobrevivendo no Inferno' é o segundo álbum de estúdio do grupo, lançado pelo selo da gravadora Cosa Nostra em 20 de dezembro de 1997. É considerado o álbum mais importante do rap brasileiro. Em 2007, figurou na 14ª posição da lista dos 100 melhores discos da música brasileira pela Rolling Stone Brasil. Em 2018, o álbum foi incluído pela Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares da Universidade Estadual de Campinas) na lista de obras de leitura obrigatória para o vestibular da Unicamp a partir de 2020. Meses depois, a obra virou livro, publicado pela Companhia das Letras, tamanha sua relevância".
O deputado federal e pré-candidato à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (Psol) esteve no Anhembi na noite de sábado (10) para acompanhar o desfile, vestindo a camisa da escola de samba Vai-Vai. A equipe de campanha de Boulos optou por não se manifestar sobre a polêmica.
O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, desfilou em um carro alegórico da agremiação com a imagem pichada do bandeirante Borba Gato. A figura de Borba Gato é polêmica entre ativistas que afirmam que ele está associado à escravização e à perseguição de índios e negros no período do Brasil colonial. Em 2021, a imagem foi vandalizada e manifestantes atearam fogo na estrutura de 13 metros e que pesa cerca de 20 toneladas na praça Augusto Tortorelo de Araújo, em São Paulo.
No X (antigo Twitter), Silvio Almeida disse que seu avô paterno foi um dos fundadores e esteve nas primeiras diretorias da Vai-Vai e que a agremiação faz parte da história da vida dele. “É a Escola de Samba que faz parte da história da minha família e que é uma das mais vigorosas manifestações da cultura negra da cidade de São Paulo. Este ano Vai-Vai homenageou a cultura Hip Hop, cuja importância para a minha formação eu já mencionei outras vezes”, afirmou na rede social.
A participação de Boulos e de Almeida no desfile da Vai-Vai foi motivo de crítica da deputada federal Rosana Valle (PL-SP). “Espantoso ver Boulos e o ministro dos Direitos Humanos do Lula desfilando e sorrindo, enquanto a escola exibia fantasias de policiais como se fossem demônios. O que se viu foi uma afronta aos profissionais da Segurança Pública do Estado de São Paulo, que arriscam a vida para proteger a sociedade. Lamentável e desnecessário. No desfile, ainda teve exaltação ao vandalismo do patrimônio público. Isso não é Carnaval”, criticou ela.
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