Integrantes do Palácio do Planalto dizem que, atualmente, há apenas uma certeza sobre a segunda vaga do STF a ser preenchida pelo presidente da República: o próximo ministro não será alguém que recebeu as bênçãos do pastor Silas Malafaia.
Após Bolsonaro confirmar o nome de Kassio Nunes Marques para o STF, Malafaia foi um dos principais críticos da decisão do presidente da República. O próprio Bolsonaro disse que ficou “chateado” pela forma como foi criticado. E sem citar Malafaia, Bolsonaro revelou que uma “autoridade” do Rio de Janeiro queria emplacar um indicado dele ao STF. E isso deixou o presidente visivelmente irritado. “O voto é um direito dele; até não ir votar é um direito dele. Agora, tudo tem defeito. Essa autoridade do Rio de Janeiro queria que eu indicasse o [candidato] dele. Tem vários vídeos aí. Uma autoridade que diz que tem Deus no coração, o que dói mais na gente, mas tudo bem”, disse Bolsonaro.
Após a indicação de Kassio Nunes, Malafaia fez vários vídeos na internet criticando a decisão do presidente. “Não posso acreditar! Bolsonaro fazendo jogo do PT e Centrão na indicação do STF”, disse o pastor por meio das redes sociais. Outro crítico da nomeação foi o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), um dos líderes da Frente Parlamentar Evangélica. Sóstenes é ligado a Silas Malafaia.
Três integrantes do Palácio do Planalto com o direto ao presidente da República relataram à Gazeta do Povo que Bolsonaro já deixou claro que nenhum nome sugerido por Malafaia será levado em consideração no futuro. A não ser que o próprio Malafaia faça um movimento de reaproximação com o presidente, com direito a pedido de desculpas público por parte do pastor evangélico.
Assim, o nome do juiz William Douglas é tido praticamente como “carta fora do baralho” na disputa pela vaga de Marco Aurélio Mello. Malafaia era o maior defensor do nome do magistrado federal.
VEJA TAMBÉM:
A indicação de Kassio Nunes Marques expôs claramente uma divisão interna na Frente Parlamentar Evangélica. Justamente por essa razão, alguns deputados como Marco Feliciano e Marcos Pereira não criticaram publicamente o presidente da República.
Por trás do silêncio de alguns parlamentares conservadores, conforme integrantes da Câmara, está não somente o respeito ao presidente como também uma sinalização política em favor de Bolsonaro. Marcos Pereira é presidente nacional do Republicanos, sigla que abrigou dois filhos do presidente da República — o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (RJ) — entre outros aliados, como Marco Feliciano.
Apesar de não itir isso oficialmente, a cúpula do Republicanos gostaria de ter Bolsonaro como seu candidato a presidente da República em 2022, caso o Aliança pelo Brasil não saia do papel. Por esse motivo, conforme membros do partido ouvidos pela Gazeta do Povo, nenhum parlamentar evangélico da sigla teceu críticas públicas a Bolsonaro.
Além disso, conforme membros do governo, o não acolhimento de um nome sugerido por Malafaia e Sóstenes também serviu para mostrar que ambos não têm “tanta influência quanto eles vendem para seus aliados”, conforme itiu uma fonte governista. O movimento isolou Sóstenes e reforçou a força de Marcos Pereira junto ao presidente e aos membros da Frente Parlamentar Evangélica.