Como mais de 60% do transporte de cargas no Brasil é feita pelo sistema rodoviário, os impactos dos roubos de carga são bastante amplos, podendo causar desde a elevação de preços, até mesmo a escassez de determinados produtos e o não fornecimento e demora na entrega. 4x1f4
Charles Ferreira, diretor executivo da JC Gestão de Riscos, que presta serviços para garantir a segurança patrimonial e nos transportes de empresas, explica que o valor do seguro contra roubo aumenta de acordo com a avaliação de risco de uma região. Se aumentam os roubos, o valor do seguro tende a aumentar e, dependendo dos casos, pode ser preciso utilizar caminhões blindados, escoltas e rastreamento, por exemplo.
Ele explica que, por exemplo, no Rio de Janeiro a somatória destes custos de segurança pode chegar a 15% do valor da carga. Para se ter uma ideia da gravidade desse dado, durante a guerra do Iraque os custos de segurança calculados pelas empresas americanas que faziam a logística de suprimentos do exército na região giravam em torno de 20 a 25%.
Tamanha insegurança fez com que, por exemplo, algumas empresas deixassem de fazer seguros para transporte ou entrega de cargas no Rio. Em alguns casos, além de cobrar valores altíssimos, os seguros previam a partilha das perdas, ficando 50% por conta da seguradora e 50% por conta do segurado. Além disso, ele destaca que empresas já deixaram de abrir centros logísticos na capital fluminense em razão do alto risco. “As pessoas não têm ideia do valor a mais que pagam em razão das medidas de segurança que as empresas precisam adotar”, afirma.
O relatório ainda mostra que as cargas roubadas variam segundo os produção local. No Sul, que ocupa o 2º lugar no ranking com 10% dos roubos ocorridos no país, o principal alvo dos criminosos são as cargas agropecuárias. Elas representaram 19% do total de ocorrências em 2023. Esse padrão se mantém no Centro-Oeste, onde 38% das cargas roubadas são do agronegócio.
Já no Sudeste, as cargas mistas são as mais visadas e na região Nordeste, que concentra 8% do total de roubos de carga no país, eletrônicos e alimentos e bebidas são os principais alvos. No Norte destaca-se o roubo de produtos eletrônicos, com 31% das ocorrências na região.
A carga também pode determinar o tipo de roubo que é realizado. No caso de tabaco, por exemplo, cujo contrabando se tornou uma alta fonte de renda para facções criminosas, e de alguns produtos do agronegócio, as quadrilhas usam uma tática específica.
Nesses casos, o caminhão é abordado, levado para um local onde é feito o descarregamento e a redistribuição da carga para outros veículos. Em geral, o local da “desova” fica em um raio de até 80 km da abordagem, para diminuir o risco de interceptação policial.
Há também os roubos de oportunidade, nos quais os criminosos abordam os caminhões sem saberem qual é a carga. Em geral, esses são feitos no perímetro metropolitano e os caminhões são levados para regiões controladas pelo tráfico ou para galpões, onde podem ser rapidamente descarregados, em menos de 15 minutos.
Charles ressalta que, no caso do roubo de alimentos e bebidas, os riscos para a saúde da população podem ser muito altos, pois os produtos demandam cuidados de conservação que não são cumpridos nem por quem intermedia e distribui a carga roubada e, muitas vezes, nem por quem a revende. Se houver alguma questão de saúde pública relacionada à deterioração desses produtos, a empresa fabricante ainda pode ter que responder pelos danos causados.