Segundo Marcus Deois, diretor da consultoria política Ética, a principal marca do ministro José Múcio é a sua discrição. “Ele atua de forma comedida em público e se aprofunda mais nas negociações em privado, conseguindo assim aparecer e desaparecer no noticiário sem deixar vestígios de polêmica e sem renunciar às suas responsabilidades”, explicou. Um exemplo desse modo de agir foi a recente participação em cerimônias que envolveram Lula e o presidente francês Emmanuel Macron.

Para o especialista, após uma agenda intensa em território brasileiro com Macron, Lula consolidou seu movimento político de aproximação com as Forças Armadas, ao ponto de pedir cancelamento do evento que relembraria os “60 anos do golpe militar”.

Na sua opinião, o responsável por esses feitos deve ser creditado ao discreto ministro da Defesa, que ganhou ainda relevância nas relações externas depois de organizar diversos acordos bilaterais entre Brasil e França para modernizar e potencializar as Forças Armadas, sem criar nenhum ruído entre Lula e os três comandantes, pelo contrário.

A percepção de que José Múcio é o “homem certo no lugar certo” é amplamente compartilhada pelos próprios líderes das Forças Armadas, segundo apurou a Gazeta do Povo. Eles têm se unido ao esforço do ministro em “construir pontes” entre os militares, o governo e os demais poderes da República.

A confiança deles na habilidade e na liderança de Múcio chega ao ponto de já temerem a sua eventual saída, caso ele considere ter cumprido com a sua missão pacificadora e decida desfrutar plenamente de sua aposentadoria na vida pública, deixando para trás pressões cotidianas.

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Político habilidoso, com trânsito por todo o espectro partidário e ideológico, Múcio foi deputado federal por cinco mandatos, integrou a equipe do segundo governo de Lula como ministro das Relações Institucionais e presidiu o Tribunal de Contas da União (TCU), do qual está aposentado.

A sua indicação não sofreu nenhuma resistência e foi elogiada até mesmo por Bolsonaro, que disse ser “impossível não gostar” do ex-colega de Câmara. Graças ao perfil articulador e às conexões com as Forças Armadas, ele assumiu o posto do general Paulo Sérgio Nogueira, retomando a chefia civil da pasta, interrompida no governo anterior. O Ministério da Defesa foi criado em 1999, na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com o propósito de estabelecer o controle civil sobre as Forças Armadas pela primeira vez desde a instauração da República em 1889.

No período de sua atuação no TCU, que se estendeu de 2009 até 2020, Múcio optou por se aposentar antes de atingir a idade máxima, estabelecida em 75 anos. Em seu momento de despedida da Corte de Contas, recebeu um convite de Bolsonaro para integrar o governo, que também lhe demonstrou afeto e apreço: “Se a saudade bater, venha para cá”, expressou o então presidente, acrescentando: “Zé Múcio, se me permite, eu sou apaixonado por você. Gosto muito de vossa excelência.”

Nascido em Recife, o ministro, agora aos 75 anos, é formado em engenharia civil pela Escola Politécnica de Pernambuco. Iniciou a sua carreira política como vice-prefeito de Rio Formoso (PE), posteriormente eleito prefeito da cidade e nomeado presidente da então estatal energética Celpe. Mais tarde, assumiu o cargo de secretário dos Transportes, Comunicação e Energia do estado. Sua trajetória no Congresso teve início em 1991, quando era filiado ao PFL, ando posteriormente pelo PSDB, até chegar ao PTB.

Como ministro do TCU, Múcio foi um dos membros que votaram pela reprovação das contas da então presidente Dilma Rousseff (PT) em 2014. No ano seguinte, como relator da matéria, recomendou novamente a rejeição das pedaladas fiscais da ex-presidente, apresentando um voto que classificou como pautado pela técnica e objetividade.